06/11/08

Entrevista... Aqui Del Rock

Terceira parte de uma entrevista feita aos Aqui Del Rock, no dia 24 de Fevereiro de 1981
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Perg. – O que acham da lei que obriga as rádios a passar 50% de música portuguesa?
Resp. – (Óscar) – Isso vai ser assim: António Calvário, António Mourão, Tony de Matos, etc.
Perg. – Mas isso pode vir a marginalizar o rock português.
Resp. – (Óscar) – Agora a falar a sério… acho que não.
(Fernando) – Eles vão passar rock, mas só cantado em português.
(Serra) – Eu acho que isso não pode ser assim. As pessoas podem-se exprimir na língua que quiserem desde que sejam residentes ou nascidos neste país. As consequências só se podem ver na prática, com o tempo.
Perg. – Projectos para o futuro.
Resp. – (Óscar) – Os nossos maiores projectos são tocar e ter hipóteses para o poder fazer.

FIM

05/11/08

Entrevista... Aqui Del Rock

Segunda parte de uma entrevista feita aos Aqui Del Rock, no dia 24 de Fevereiro de 1981
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Perg. – Acham que as divergências que existem actualmente entre os grupos portugueses, possam ser prejudiciais para o rock português?
Resp. – (Alfredo) – Eu acho que se eles fazem isso é muito mau, porque nós devíamos dar-nos todos muito bem.
(Serra) – Se isso é prejudicial? Pode ser mas também pode ser benéfico. Existem sempre divergências, pontos de vista diferentes e depois, na prática, isso vai dar um leque maior de possibilidades de escolhas às pessoas. Eu acho que não interessa se essas divergências existem ou não, o que interessa é que existam muitos grupos e oportunidades para eles, sejam bons ou maus. Falta de qualidade? A qualidade há-de surgir, uma vez que há quantidade.
Perg. – É possível viver em Portugal à custa da música?
Resp. – (Serra) – Para nós, até agora, ainda não foi possível, mas queremos ver se conseguimos.
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04/11/08

Entrevista... Aqui Del Rock

Primeira parte de uma entrevista feita aos Aqui Del Rock, no dia 24 de Fevereiro de 1981

Perg. – Qual a vossa formação actual?
Resp. – Actualmente o grupo é formado pelo Alberto na guitarra, Carlos na guitarra, Serra na bateria, Fernando no baixo e por mim, Óscar que sou o vocalista.
Perg. – Há quanto tempo é que os Aqui Del Rock se formaram?
Resp. – (Óscar) – Há dois dias. Não, agora a falar a sério, nós formámo-nos há cerca de um ano e começámos a tocar aquilo que gostamos e temos feito um esforço nesse sentido. Só que os nossos gostos vão mudando e fomos tocando outras coisas e de acordo com isso, fomos encontrando as pessoas indicadas para fazer aquilo que nós queríamos e isso é um processo que leva tempo, especialmente porque o que nós pretendemos fazer também se vai definindo com as pessoas que vão entrando, mas o facto das pessoas irem entrando não é o mais importante; o mais importante é aquilo que nós hoje queremos fazer. Por isso quando me perguntaste há quanto tempo é que nós existíamos eu disse que era há dois dias, porque nós existimos no momento em que estamos a tocar para alguém, ou para nós.
Perg. – Acham que existe um Movimento Rock Português devido à explosão de grupo que houve, ou é algo efémero?
Resp. – (Alberto) – Eu posso dizer que já assisti nos anos 70 a uma coisa parecida e foi tudo por água abaixo. Por isso, não sei se acredite, apesar de estar um bocado melhor do que nos anos 70. Eu acho que esse movimento não vai ter nada a ver com os rockers que existem no nosso país, pois vai haver pessoas que se vão aproveitar disso para ganhar dinheiro e não vão dar possibilidades aos rockers de expandirem aquilo que querem dizer.
(Serra) – Desde sempre que a música deste género é efémera e é assim que se define; quando deixar de o ser, começa a ser algo chato, e tu vês que todos os grupos que perdem a urgência do momento, que perdem a inovação, que deixam de se por constantemente em causa, tornam-se grupos chatos. Eu estou convencido que para já e com a quantidade de grupos que estão a aparecer, há alguma possibilidade desse movimento continuar.
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26/10/08

Helio Sequence - Keep Your Eyes Ahead

Após um intervalo forçado de quatro anos - devido aos problemas vocais do seu vocalista, Brandon Summer - os The Helio Sequence regressam aos discos com "Keep Your Eyes Ahead". Brandon Summer, vocalista e guitarrista do grupo e Benjamim Weikel, trazem-nos um conjunto de dez excelentes canções, num estilo mais pop e consequentemente menos psicadélico que o seu antecessor, "Love And Distance" de 2004. "Keep Your Eyes Ahead" é um disco mais acessível, repleto de canções pop, sem nunca chegar a ser excessivamente comercial e com alguns momentos de brilhantismo, como por exemplo "You Can Come To Me".

01 - Lately
02 - Can't Say No
03 - The Captive Mind
04 - You Can Come To Me
05 - Shed Your Love
06 - Keep Your Eyes Ahead
07 - Back To This
08 - Hallelujah
09 - Broken Afternoon
10 - No Regrets

Nota - 8/10

12/10/08

I. Campbell & M. Lanegan - Sunday At Devil Dirt


Depois do excelente e bem sucedido "Ballad Of Broken Seas", editado em 2006, Isobell Campbell & Mark Lanegan, regressam em 2008 com um novo trabalho, intitulado "Sunday At Devil Dirt", um novo disco mas que não foge ao estilo a que este duo nos habituou. A voz grave e cavernosa de Lanegan em contraste com a voz suave e angelical de Campbell, transmite-nos grandes momentos de prazer e serenidade. Sem surpreender, acaba por ser um excelente trabalho candidato a figurar no "Top Ten" dos melhores discos de 2008.

01 - Seafaring Song
02 - The Raven
03 - Salvation
04 - Who Built The Road
05 - Come On Over (Turn Me On)
06 - Black Burner
07 - The Flame That Burns
08 - Shotgun Blues
09 - Keep Me In Mind, Sweetheart
10 - Something To Believe
11 - Trouble
12 - Sally, Don't You Cry

Classificação - 8/10

11/10/08

Recortes... Adelaide Ferreira

Foto de Adelaide Ferreira no início dos anos 80, altura em que foi feita a entrevista publicada neste blog.

10/10/08

Entrevista... Adelaide Ferreira


Quarta parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog a Adelaide Ferreira, publicada no suplemento "Som 80", parte integrante do jornal "Portugal Hoje", extinto no início dos anos 80. ...
Perg. – O que achas deste movimento eu surgiu o ano passado, de grupos rock portugueses? Resp. – Essencialmente acho que existe uma saturação por parte do público português, ao rock importado. O rock internacional está a passar uma crise. Por exemplo, eu acho que a New Wave é um estilo muito fraco e, na minha opinião, feito de uma forma muito pouco inteligente. Costumo dizer que é um rock quadrado e o público português é muito inteligente e quando existe qualquer coisa que não lhe agrade, ele agarra o que é bom. O rock português acontece bem por parte do Rui Veloso e os portugueses aderem ao rock feito por portugueses, na medida em que está a ser feito com muito melhor qualidade do que o estrangeiro.
Perg. – Achas que pode ser considerado um movimento?
Resp. – Eu acho que sim. Porque não? Acho que é uma necessidade que a juventude portuguesa tem que qualquer coisa seja feita em Portugal. Nós estamos fartos de ser sempre os fraquinhos, os pobrezinhos. Há pessoas com capacidade no nosso país e a geração que está a consumir o rock português, sabe isso.

Perg. – Não colocas a hipótese do público se vir a fartar devido a um cansaço originado por existirem muitas bandas ao mesmo tempo?
Resp. – Não, eu acho que o que vai acontecer é uma selecção natural. Nem tudo o que se está a fazer é bom, é tudo razoável e os grupos estão todos a começar. Depois vai haver por parte dos grupos, uma melhoria do seu trabalho, uma melhoria de qualidade quer a nível instrumental quer a nível de arranjos. Isso vai originar uma selecção e as próprias pessoas vão aperceber-se do que preferem e daqui a um ou dois anos há uma selecção e vão existir alguns grupos que se vão manter e outros que vão ter de trabalhar mais para poderem melhorar. Isso é sempre bom e é salutar ter de melhorar o seu trabalho para conseguir chegar ao nível dos que já estão seleccionados por determinado público.

Perg. – Como é que vês o papel da mulher no rock que se faz em Portugal?
Resp. – Da mesma maneira que o papel do homem. Acho que têm ambos o mesmo peso, apesar de não serem iguais. Portanto, o papel da mulher é mostrar que é igual ao homem, que pode cantar o rock da mesma maneira, o homem com mais virilidade e a mulher com mais feminilidade, mas ambos têm um papel muito importante.

Perg. – Quais são os teus projectos para o futuro?
Resp. - Eu tenho alguns projectos mas são a curto prazo. Tenho a banda formada, estamos a fazer espectáculos, a nossa estreia correu bem e estou muito contente. Vou editar um Lp e tentar dar o máximo número de espectáculos.

FIM

09/10/08

Entrevista... Adelaide Ferreira

Terceira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog a Adelaide Ferreira, publicada no suplemento "Som 80", parte integrante do jornal "Portugal Hoje", extinto no início dos anos 80.
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Perg. – Recentemente formaste uma banda que se destina a acompanhar-te nos espectáculos ao vivo. Quem são os músicos que formam essa banda e qual é que foi o critério que seguiste para essa selecção?
Resp. – Sabes que aqui em Portugal o critério é uma coisa em que não podemos pensar muito, pois existem poucos músicos com capacidade. Há alguns mas são poucos, talvez porque a entrada nas escolas, por exemplo no conservatório, é muito restrita, pois não é qualquer pessoa que consegue entrar numa escola dessas. A possibilidade de se formarem músicos no nosso país é quase nula e é por isso que existem poucos músicos com capacidade e portanto, a minha selecção de músicos praticamente não existiu, pois “agarrei” os que havia. Eles são o Necas na bateria, Luís Fernando na guitarra ritmo e harmónica, Eduardo Quintela no piano, Carlos Borracha na viola solo e o Zacarias no baixo. O Zacarias substitui recentemente o Vasco Alves que estava no grupo, mas teve de sair por questões da sua vida pessoal.

Perg. – És ao mesmo tempo actriz e cantora. Qual das duas profissões te dá mais gozo fazer?
Resp. – As duas podem-se completar e eu gostava imenso de fazer um filme em que pudesse reunir essas duas coisas, como por exemplo uma ópera rock. Gosto imenso das duas,

Perg. – Recentemente afirmaste que os cantores em Portugal, não cantam com a voz que têm mas com a voz que pensam ter. O que pretendias dizer com esta afirmação?
Resp. – Disse e mantenho. O que quis dizer foi que nós, normalmente, não conhecemos o instrumento que temos. Eu, por exemplo, aqui há dois anos desconhecia metade da voz que conheço hoje em mim. E isso deve-se ao motivo que te disse há pouco: há muito poucas escolas, ou acesso a escolas, onde nós possamos aprender isso mesmo, conhecer e educar a nossa voz. Eu digo isto, porque vejo no dia-a-dia que há cantores que cantam com muita voz e não conseguem cantar bem com a voz que têm e há cantores que cantam com menos voz do que podem. Portanto, isso é sinónimo de falta de conhecimentos e eu integro-me nesse grupo. Neste momento estou na escola do Hot Club de Portugal, de jazz, para aprender a capacidade vocal que tenho, saber a elasticidade vocal que tenho e saber improvisar dentro da música.
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08/10/08

Entrevista... Adelaide Ferreira

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog a Adelaide Ferreira, publicada no suplemento "Som 80", parte integrante do jornal "Portugal Hoje", extinto no início dos anos 80.

Perg. – Na tua carreira musica tiveste uma viragem radical, pois passaste da música ligeira das “Alegres Comadres” para o rock de “Baby Suicida”. Porquê essa viragem e como é que te sentiste?
Resp. – Porquê? Essencialmente por uma necessidade pessoal. Devo dizer que me afastei do panorama artístico do nosso país durante oito meses, para reflectir. Fiz isso e daí surgiu o rock. Não quer dizer que antes não tenha tentado fazer rock, pois em 1979, fiz uma proposta à editora onde me encontrava, de gravar duas ou três músicas rock que, por acaso, até vão sair agora no meu LP e que, quanto a mim, são as músicas mais fortes do trabalho. Até já tive ocasião de o ver, num espectáculo que fizemos na Marinha Grande, pois essas músicas foram as que tiveram mais aceitação por parte do público. Essa tal proposta foi recusada. Entretanto, reflecti, e pensei que o rock era mesmo a melhor maneira de expressar toda uma energia acumulada dentro de mim. Como sabes eu sou uma pessoa do teatro, e o teatro dá-nos uma faculdade muito grande de saber estar em palco, de saber trabalhar o que fazemos. Portanto a opção do rock está aí e além disso tenho ouvido muito rock durante toda a minha vida e como tal, sinto-me preparada para cantar rock.

Perg. – Consideras que o “Baby Suicida” foi um trabalho conseguido?
Resp. – Considero. Aliás, é o primeiro trabalho que faço a nível discográfico com o qual me sinto realizada. Claro que existem sempre aquelas coisas que nós gostávamos que corressem melhor mas o trabalho no geral, acho que está bom.
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07/10/08

Entrevista... Adelaide Ferreira

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog a Adelaide Ferreira, publicada no suplemento "Som 80", parte integrante do jornal "Portugal Hoje", extinto no início dos anos 80.

A Adelaide Ferreira é uma cantora/actriz sobejamente conhecida de todos nós e que goza de certo prestígio no panorama musical português. Senão, vejamos: quem é que ainda não ouviu falar daquela música, numa onda rock, chamada “Baby Suicida” e que tem obtido enorme sucesso? E daquele grupo formado por quatro raparigas, Alegres Comadres, e que foram ao festival da canção em 1979? Seguramente que, todos nos lembramos da excelente voz da Adelaide Ferreira no seio desse grupo; e, já agora, estou-me a lembrar da sua interpretação, curta mas interessante, no filme “Kilas o mau da fita”. Foi por esta razão que decidi entrevistar a Adelaide Ferreira.
Perg. – Adelaide Ferreira, em que linha ou onda musical é que tu te integras?
Resp. – Neste momento integro-me na onda rock. Agora, se me perguntares se é ou não definitivo, digo-te que não sei porque normalmente um cantor sofre, não no sentido depreciativo, uma evolução, e eu espero que isso aconteça comigo, espero não ficar por aqui e, portanto, de certeza absoluta que o meu rock vai evoluir progressivamente e daqui por uns anos, não sei o que estou a fazer, se rock, se jazz - rock..
Perg. – Quais os cantores ou grupos que mais te influenciam?
Resp. – Olha, eu admiro muita gente no mundo da música. Creio que estou influenciada por todos os que gosto e não influenciada (parece uma contradição, mas não é), porque normalmente eu tento não me deixar influenciar na totalidade por um cantor, mas sim por um conjunto de cantores que eu selecciono para o meu gosto. Os gostos vou-tos dizer, eles são muitos do jazz e poucos do rock. Do rock são a Janis Joplin, Bette Midler, e a Elkie Brooks; do jazz gosto do Cleo Laine, Sarah Vaughan, Billie Holiday, Al Jarreau que de homens é um dos poucos por quem me deixo, não digo influenciar, mas uma vez que a educação musical em Portugal está tão pouco desenvolvida, existem tão poucas escolas de música e que nos ensinem a cantar, que vou-me ensinando a mim própria através daquilo que ouço. Não me deixo influenciar na totalidade por ninguém, mas parcialmente por toda a gente.
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28/09/08

Apollo Sunshine... Katonah

Apollo Sunshine são um grupo que nasceu em Boston. Formados por Jesse Gallagher na voz, baixo e teclas; Sam Cohen na voz e guitarra e Jeremy Black na bateria. Num estilo musical verdadeiramente independente, a música deste agrupamento é de definição difícil. Tanto anda pela onda psicadélica como, momentaneamente, faz lembrar o rock progressivo dos anos 70; é, no entanto, uma música muito bem construída apesar de em certos momentos parecer ir em direcção ao caos, só que existe um fio condutor que nunca deixa que isso aconteça.
O grupo estreou-se nos discos em 2003 com o álbum Katonah e em 2005 editaram Apollo Sunshine.
Enquanto se espera a oportunidade de ouvir o seu mais recente trabalho, Shall Noise Upon editado este ano, sugiro uma audição a Katonah, um excelente disco de rock alternativo, num estilo muito próprio.

01 – Katonah
02 – Fear Of Heights
03 – I Was On The Moon
04 – Happening
05 – Blood Is Wood
06 – The Egg
07 – Sheets With Stars
08 – Mayday Disorder
09 – Conscious Pilot
10 – Hot Air Ballon

Nota - 8/10

25/09/08

Entrevista... Xutos & Pontapés

Terceira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos Xutos & Pontapés, que foi publicada no jornal Musicalíssimo no dia 01 de Fevereiro de 1982

Perg. – Como é que o público reagiu à vossa actuação na maratona do “Musicalíssimo”?
Resp. – Acho que ficaram um bocado assustados connosco.
Perg. – Porquê?
Resp. - Porque acho que somos um grupo totalmente diferente do que se está habituado a ver, somos um grupo bastante agressivo em palco, quer do ponto de vista teatral quer do ponto de vista musical; e isso, acho que assusta um bocado as pessoas. Inicialmente o público, estava um bocado frio, mas nós conseguimos aquecer.
Perg. – Vocês tentam dar, através dos vossos poemas, alguma mensagem às pessoas que os ouvem?
Resp. – Tanto as nossas letras, como as nossas músicas são uma revolta momentânea que nós sentimos em determinadas alturas. São coisas sentidas por nós, que retratam certas revoltas, certos acontecimentos do dia-a-dia. Tentamos fazer com que as pessoas tenham interesse pelo conteúdo das letras.
Perg. – Quais são os vossos projectos para o futuro?
Resp. – Se tudo correr bem, gravar um álbum para o ano e em Fevereiro deve sair um novo single. Esperamos ir dando alguns concertos. O que mais nos preocupa é continuarmos a ensaiar e a fazer músicas.

FIM

24/09/08

Entrevista... Xutos & Pontapés

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos Xutos & Pontapés, que foi publicada no jornal Musicalíssimo no dia 01 de Fevereiro de 1982

Perg. – Como por exemplo o Grupo de Baile?
Resp. – Não. O Grupo de Baile é um grupo que eu, à partida ignoro, e apesar de conhecer, não quero conhecer mais.
Perg. - Não achas que, por exemplo, grupos como o Grupo de Baile, que têm umas origens um pouco distantes do rock, se querem aproveitar deste movimento justamente por isso, por dar dinheiro?
Resp. – Querem e a todos os níveis. Porque, repara, tu chegas à província e são raros os grupos de baile da província que não tentem entrar numa de rock, ou fazer um disco de rock pois isso trás mais publicidade. Temos o exemplo do “Só Rock” em que metade das bandas que lá foram, eram grupos de baile.
Perg. – Acham que o rock português tem algumas possibilidades de poder ir além fronteiras?
Resp. – Eu acho que não se pode pensar nesse caso. Nós, pessoalmente, nunca pensámos ir ao estrangeiro.
Perg. – E se surgisse uma oportunidade?
Resp. – Não íamos, porque não temos uma organização no seio do grupo que consiga aguentar o mercado nacional e que nos permita fazer uma tournée a nível nacional. A nível internacional ainda menos possibilidade havia.
Perg. – Porquê que não têm essa organização? Por falta de experiência ou questões monetárias?
Resp. – Falta de experiência, não. Agora falta de condições monetárias, talvez; a nível de material é outras das falhas, mas isso supera-se. O que acontece no seio do grupo é que, até agora, nós temos levado a coisa um bocado por brincadeira e agora estamos a começar a levar a sério. A partir daí começamos a arrancar com um projecto de organização a nível monetário e a criar uma independência monetária do grupo.
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23/09/08

Entrevista... Xutos & Pontapés

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos Xutos & Pontapés, que foi publicada no jornal Musicalíssimo no dia 01 de Fevereiro de 1982

Em 1980 marcaram uma excelente actuação no pavilhão do Belenenses, quando serviram de suporte às vedetas “Wilko Johnson Solid Sender’s”. “Sémen” é tocado pela primeira vez no Rock Rendez-Vous e o salto para o panorama do rock nacional estava dado. Xutos e Pontapés, antes de o serem, foram “Beijinhos e Parabéns” e “De Lirius Tremulus”.
Surgiu recentemente no nosso mercado discográfico, mais um disco de rock português, desta vez do grupo Xutos e Pontapés. Neste single, o grupo brinda-nos com uma música de qualidade invulgar, “Sémen”. Devido ao facto de esse single ser um trabalho bastante positivo, fui entrevistá-los.
Perg. – Em primeiro lugar, gostava que me dissessem qual a formação do grupo?
Resp. – (Zé Pedro) – O grupo é formado por mim na guitarra e voz, o Francis na guitarra, Tim no baixo e voz e o Kalu na bateria. Formámo-nos em 1978.
Perg. – Qual a vossa experiência musical antes de tocarem nos Xutos e Pontapés?
Resp. – O Kalu toca desde os 15 anos e já fez parte de várias bandas, o Tim teve experiência no campo da música contemporânea, o Francis tocou em várias bandas de segundo plano e eu nunca tinha tido nenhuma experiência.
Perg. – Têm aspirações a ser um dos grandes grupos do rock português?
Resp. – Não. Tanto não temos aspirações como nunca nos tentamos impor, nunca nos tentamos enfiar no seio do próprio movimento.
Perg. – Porquê?
Resp. – Para já considero que não deve existir um movimento chamado rock português, porque actualmente o rock português está a ser aproveitado para tudo o que se passa em Portugal a nível de músicas mais mexidas. Portanto, há muita coisa que se faz e é chamada rock português que, à priori, não devia ter sequer qualquer contacto com o rock. Em Portugal, há uma grande paranóia a nível mental das pessoas, de aceitarem grupos pop. Ora bem, há grupos a fazerem o dito rock português, que poderiam dizer que fazem pop.
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15/09/08

Homenagem... Richard Wright

28/07/1943 - 15/09/2008

Richard Wright, um dos fundadores daquela que na minha opinião, foi a melhor banda de sempre da música, faleceu hoje dia 15 de Setembro. Wright, para além de teclista dos Pink Floyd era um dos compositores do grupo, tendo participado no processo de composição de alguns dos seus melhores discos, entre os quais Dark Side Of The Moon (1973) e Wish You Were Here (1975). Em 1979 foi afastado, como membro oficial do grupo, por Roger Waters, tendo regressado posteriormente como músico convidado. Somente em 1987, durante as gravações de A Momentary Lapse Of Reason (1987), volta ao grupo como membro mas sem participar como compositor; voltou ao papel de compositor em Division Bell (1994). Em 02 de Julho de 2005 participou na curta, mas inesquecível, participação dos Pink Floyd no festival Live Aid, no Hyde PArk em Londres.

14/09/08

Gutter Twins - Saturnalia


Um projecto, um grupo ou um super-grupo?
Na minha opinião isso não é o mais importante para defenir os The Gutter Twins. Formados por Mark Lanegan - membro dos Screaming Trees, Twilight Singrers e dos Queens Of The Stone Age - e por Greg Dulli - membro dos Afghan Whigs, Blackbeat Band e também dos Twilight Singers, os Gutter Twins editaram em Março deste ano um disco que se arrisca a ser considerado como um dos melhores de 2008: “Saturnalia”.
É um disco extremamente equilibrado, do primeiro ao último tema, onde somos presenteados com verdadeiras pérolas musicais. O estilo inconfundível que Mark Lanegan e Greg Dulli têm evidenciado ao longo da sua carreira, com canções densas fortes e melódicas, canções duras sem ser agressivas, ou antes como algo “agridoce”, uma mistura de agressividade com uma suavidade que nos é transmitida pela grande qualidade musical evidenciada desde o primeiro ao último acorde de qualquer tema deste trabalho.

01 – The Stations
02 – God’s Children
03 – All Misery / Flowers
04 – The Body
05 – Idle Hands
06 – Circle The Fringes
07 – Who Will Lead Us?
08 – Seven Stories Underground
09 – I Was In Love With You
10 – Bête Noire
11 - Each To Each
12 – Front Street

Classificação – 9/10

09/09/08

Homenagem... Hector Zazou

../../1948 - 08/09/2008

Hector Zazou, músico argelino e autor de alguns dos melhores trabalhos da música independente experimental, faleceu hoje, dia 09 de Setembro de 2008. Tinha sessenta anos e deixa um legado musical de qualidade soberba. Com ele colaboraram, entre muitos outros, Bjork, John Cale, Dead Can Dance, David Sylvian, etc, etc. O músico e o homem podem partir, mas Zazou fica para sempre nas nossas memórias, imortalizado pela sua obra. O prazer que sempre tivemos a ouvir os seus discos, jamais será esquecido.

31/08/08

David Byrne & Brian Eno - Everything That Happens...

Quando é anunciado um novo trabalho da dupla David Byrne e Brian Eno, cria-se sempre uma ansiedade natural para o ouvir. Byrne e Eno, habituaram-nos, sempre, a trabalhos bons e surpreendentes, quer pela constante inovação, quer pela excelente qualidade musical, pois raramente editam um disco que não tenha elevados padrões de qualidade. Este seu mais recente trabalho não foge a essa regra, pois estamos perante um disco composto por onze excelentes temas, que vão, por exemplo, de um “Home”, numa onda mais comercial mas que não chega a cair na simplicidade, até “I Feel My Stuff” onde Brian Eno dá asas à sua criatividade e imaginação, passando por um “Strange Overtones” que foi o primeiro tema a ser adiantado ao público e onde estão mais evidentes as influências dos Talking Heads.

01 – Home
02 – My Big Nurse
03 – I Feel My Stuff
04 – Everything That Happens
05 – Life Is Long
06 – The River
07 – Strange Overtones
08 – Wanted For Live
09 – One Fine Day
10 – Poor Boy
11 –The Lighthouse

Classificação – 8/10

27/08/08

Entrevista... Speeds

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog no dia 12 de Setembro de 1980 aos Speeds, e que foi publicada no jornal "Musicalíssimo".
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Perg. – Porquê que não cantam em Português?
Resp. – Nós lisboetas, temos uma dicção que não é fácil enquadrar-se no rock.. Por enquanto vamos seguir os objectivos inicialmente propostos de cantar em Inglês, embora já tenhamos na gaveta, qualquer coisa em Português, mas a gaveta está bem fechada. Cantar em Português seria uma experiência bastante aliciante. Gostávamos muito de cantar em Português até porque gostaríamos de transmitir qualquer mensagem com as letras das nossas músicas, mas neste momento ainda não temos condições criadas para isso.
Perg. – As editoras que apostam mais nos grupos Portugueses, são as grandes ou as pequenas?
Resp. – Isso agora está mais distribuído, pois há grupos na Valentim de Carvalho, na Nova, na Rossil e muito particularmente na Gira, editora da qual fazermos parte, bem como os Trabalhadores do Comércio. A Nova, Valentim de Carvalho, Gira (Ex. R.P.E.), são quatro empresas totalmente diferentes que neste momento perceberam que vale a pena apostar noutro tipo de empreendimento.
Perg. – Acham que a rádio apoia os grupos Portugueses?
Resp. – Felizmente isso já acontece e a prova disso é que nós estamos aqui e no bom caminho.
Perg. – Quais as principais diferenças que acham que existe entre o vosso primeiro single e o último?
Resp. – Há diferenças na qualidade do som, embora a linha musical seja a mesma. De qualquer maneira, ainda não estamos satisfeitos com o produto final, ou seja a prensagem.
Perg. – Projectos para o futuro?
Resp. – Vamos actuar na TV, no Rock Rendez-Vous e temos contratos para Coimbra, Aveiro, alguns bares de Lisboa, liceus e clubes. A pouco e pouco vamos melhorando a nossa qualidade de som, o que é difícil, devido aos elevados preços do material. Há mais músicas para ensaios, sem fugir ao Rock puro que tocamos.

P.S. – Os Speeds viriam a desaparecer pouco tempo depois. Nunca chegaram a gravar nenhum LP, e o segundo single do grupo “Today Is Not A Good Day” foi um fracasso. Segundo sei, foi das poucas entrevistas que os Speeds deram e as fotos publicadas neste blog são das poucas que existem do grupo.

26/08/08

Entrevista... Speeds

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog no dia 12 de Setembro de 1980 aos Speeds, e que foi publicada no jornal "Musicalíssimo".

Quando se fala de Rock feito por Portugueses tem que, obrigatoriamente, se falar nos Speeds. Os Speeds editaram dois singles em 1980, tendo atingido o Top do programa Rock em Stock.
Perg. – Quem são os Speeds?
Resp. – Na bateria é o João José, viola solo é o Ricardo, viola ritmo e harmónica é o Pedro Oliveira, viola baixo o João Ejarque e na voz sou eu, João Braz.
Perg. – Como é que se deu a vossa entrada no mundo discográfico?
Resp. – Nós levámos uma cassete ao Luís Felipe Barros, do Rock em Stock, ele gostou e proporcionou-nos a gravação de um single na editora R.P.E., single esse que chegou ao 3º lugar do Top, com o tema “Where I Used To Play”.
Perg. – Qual a linha ou onda musical com que se identificam?
Resp. – Rock, somos rockers. A nossa música é fruto de todas as influências que nos rodeiam no mundo do rock. Não queremos ser rotulados.
Perg. – Concordam com o apoio que se dá actualmente aos grupos Portugueses?
Resp. – Apesar desse apoio ainda não ser suficiente, não há duvida que hoje estão criadas melhores condições do que há uns anos atrás, mas esse apoio ainda é fraquinho. Antes comíamos ossos, agora já engolimos espinhas.
Perg. – Quais as consequência que vocês pensam que terá o facto de aparecerem tantas bandas rock, isto se atendermos a que o nosso mercado é muito restrito?
Resp. – Acho que a pouco e pouco o rock feito em Portugal por Portugueses, está a impor-se junto da malta nova. Quanto mais grupos existirem, mais concorrência há, o que terá aspectos positivos se houver união mas também tem aspectos negativos, que estão à vista.
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21/08/08

Entrevista... Arte Nova

Terceira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog em Junho de 1981 ao agrupamento "Arte Nova", e que foi publicada no jornal "Musicalíssimo" no dia 19 de Agosto desse ano.

Perg. – Porquê que escolheram cantar em Português?
Resp. – (Lau) Porque somos Portugueses.
Perg. – Então não concordam quando se afirma que o rock não pode ser cantado em Português, ou pelo menos não deve?
Resp. – O rock é um estilo musical que tem uma língua de origem que é o Inglês e de facto essa música foi feita e estruturada para ser canta nessa língua. Ninguém pensa, por exemplo, em cantar fado em Inglês. O rock teve uma grande evolução que originou uma internacionalização, e actualmente já não é nem inglês nem americano, é internacional. Se fossemos ingleses, cantávamos em inglês, como somos portugueses cantamos em português.
(Zé) – Cantando em Inglês estaríamos a dar uma evolução á música Inglesa e não à Portuguesa. Perg. – Quer dizer que vocês “lutam” para dar alguma evolução à música Portuguesa.
Resp. – (Tó) Claro.
Perg. – Através dos poemas das vossas músicas, acham que é importante dar alguma mensagem às pessoas que as ouvem?
Resp. – (Lau) Acho que sim.
(Zé) – Quase todo o rock retrata a sociedade. Nós retratamos a sociedade e o nosso principal lema é fazer uma crítica aos valores humanos dominantes, aos valores morais, porque acreditamos que o mundo está englobado num sistema muito rígido e não o tentamos destruir porque iria aparecer um outro sistema que também seria rígido. Apenas o criticamos.

Perg. – Como é que interpretam esta avalanche de grupos Portugueses?

Resp. – (Lau) Acho que é uma onda, que aparece de vez em quando.
Perg. – Há quem afirme que esta avalanche se deve a uma possível decadência do rock estrangeiro. Concordam?
Resp. – (Lau) Eu acho que não. Uma coisa que penso que teve muita influência foi o elevado número de concertos que houve no ano passado. Isso fez com que o pessoal começasse a formar grupos. Perg. – Quais os vosso planos para o futuro?
Resp. – (Mário) O nosso objectivo é trabalhar e esperamos que as pessoas aproveitem o nosso trabalho.

P.S. - Não tive conhecimento que este agrupamento tenha chegado a editar algum disco. Julgo que não e se por acaso estiver errado, as minhas desculpas.

20/08/08

Entrevista... Arte Nova

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog em Junho de 1981 ao agrupamento "Arte Nova", e que foi publicada no jornal "Musicalíssimo" no dia 19 de Agosto desse ano.

Perg. – Já existe algum disco gravado?
Resp. – (Tó) Gravado ainda não está. Temos alguns contactos com as editoras e está, digamos, apalavrado, mas não podemos adiantar mais nada.
Perg. – As editoras têm demonstrado interesse nas vossas músicas?
Resp. – (Lau) Acho que sim.
Tó – Eles é que entraram em contacto connosco e é por essa razão que achamos que devem estar interessados.
Perg. – Quais foram essas editoras?
Resp. – (Zé) A Rossil e a Metro-Som.
Perg. – Do ponto de vista musical, como é que se identificam?
Resp. – (Tó) – É muito difícil definirmo-nos, isto porque estamos ainda num trabalho de pesquisa. É impossível dizer que gostamos desta música e é esta música que vamos tocar. Nós temos estado em várias fases, pois começámos a tocar uma música tipo Jazz-Rock, depois New Wave e outros estilos que vamos tocando conforme nos apetece.
(Zé) Nós tentamos fugir a tudo o que nos possa retratar a outros grupos.
(Lau) Acho que estamos a tentar fazer um trabalho de pesquisa, a tentar criar um estilo próprio. Perg. – Actualmente não são profissionais, ou seja, não vivem somente da música. Têm isso como um objectivo, viver à custa da música?
Resp. – (Lau) Para já, não sei. O tempo dirá.
(Tó) – Para já, cada um de nós tem as suas ideias com vista a uma profissão a seguir em termos de futuro e nenhum de nós está a pensar em seguir a música como profissão, mas um dia isto pode dar uma volta e quem sabe, se nos tornaremos profissionais.
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19/08/08

Entrevista... Arte Nova

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog em Junho de 1981 ao agrupamento "Arte Nova", e que foi publicada no jornal "Musicalíssimo" no dia 19 de Agosto desse ano.

Algo que não é novidade para ninguém é que actualmente andam a aparecer muitos grupos de Rock Português e a origem desses grupos já não é só das grandes cidade, como por exemplo Lisboa e Porto. Muitos deles são, inclusivamente, oriundos de terras com pouca população, as chamadas terras pequenas.
Analisando isto, podemos concluir que começa a existir o chamado Movimento Rock Português.
Um dos grupos que está neste momento a tentar gravar um disco, são os Arte Nova, de Sacavém. Recentemente serviram de banda de apoio ao espectáculo dado por Manuela Bravo no palco do Teatro Monumental. Para além de terem acompanhado Manuela Bravo, os Arte Nova também tocaram músicas deles que tiveram boa aceitação por parte do público presente, tendo sido muito elogiados pela crítica, não só pela sua qualidade musical, mas também pela sua maturidade, apesar de ser uma banda constituída por músicos muito novos, pois as suas idades oscilam entre os doze e os dezoito anos. A sua crescente popularidade em espectáculos fez com que marcasse uma entrevista.
Perg. – Em primeiro lugar, gostava que fizessem a apresentação da banda.
Resp. – Os Arte Nova são formados pelo Lau no sax-alto, na viola solo o Zé, no sax-tenor o Tó, na viola baixo o Mário, na bateria o Rui e nas teclas o Raul.
Perg. – Como e quando é que vocês se formaram e quais os vossos objectivos?
Resp. – Lau – Formámo-nos há cerca de um ano. Antes tocávamos num grupo, que foi onde começámos a aprender mas era mais um grupo para bailes com objectivo de podermos juntar dinheiro para comprar material, e há cerca de um ano é que começamos mesmo a trabalhar em força, a fazer a nossa própria música.
Tó – Nós viemos todos de uma escola de música. Foi lá que nos juntamos e que começámos a aprender música e depois achamos engraçado formar um conjunto. Primeiro começámos com violas de caixa a cantar música popular Portuguesa, mas a formação não era a que está agora. Depois houve uma certa evolução e começamos a tocar em bailes. Não quer dizer que estejamos a desprezar a música popular ao afirmarmos que houve uma evolução. Nós evoluímos como músicos e depois dos bailes começamos a achar que seria engraçado começarmos a tocar música nossa, no sentido de uma auto-realização. Foi então que começámos a compor as nossas próprias canções e estamos a tentar cortar um bocado com os bailes e vamos tentar começar a ganhar dinheiro nos concertos, ou mesmo acompanhando outros artistas como foi o caso da Manuel Bravo.
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17/08/08

Wolf Parade - At Mount Zoomer

Os Wolf Parade são um grupo canadiano que se formou em 2003, na cidade de Montreal. O início deste agrupamento não podia ser mais auspicioso, pois o seu primeiro concerto foi - nada mais nada menos – na qualidade de banda de suporte aos Árcade Fire. Em 2004, editam o seu primeiro EP através de uma edição de autor, e logo aí despertam a atenção de Isaac Brock, empresário dos Modest Mouse que os convence a assinarem pela excelente editora Sub Pop. “Apologies to The Queen Mary” foi muito bem recebido pela crítica e obteve um relativo sucesso.
Finalmente em Junho de 2008, o grupo constituído por Spencer Krug, Arlen Thompson, Hadji Bakara e Dan Boeckner, edita um novo trabalho, “At Mount Zoomer”. Neste novo CD, os Wolf Parade conseguem ultrapassar muito bem o estigma do primeiro disco e fazem um excelente álbum, onde estão bem patentes as influências dos Árcade Fire, Modest Mouse e Franz Ferdinand. Boas guitarras, boas melodias. É, seguramente, um dos grandes discos de 2008.

01 – Soldier’s Grin
02 – Call It a Ritual
03 – Language City
04 – Bang Your Drum
05 – California Dreamer
06 – The Grey Estates
07 – Fine Young Cannibals
08 – An Animal In Your Care
09 – Kissing The Beehive

Nota – 8/10

07/08/08

Entrevista... Jorge Palma

Terceira parte de uma entrevista ao Jorge Palma, após a edição do seu disco "Qualquer Coisa Pá Música", em 1979.

Perg. – Ao analisar as letras deste teu mais recente trabalho “Qualquer Coisa Pá Música”, verifica-se que a maioria delas falam do dia-a-dia das pessoas, principalmente da cidade. Porquê?
Resp. – Porque a maior parte do tempo que tenho é passado na cidade. Uma pessoa tem de ter o sentimento que o determina. Quando vivemos numa cidade, fazemos parte dela e como tal é uma influência natural. As músicas que fiz, ou que vier a fazer no campo, serão músicas mais leves, vão falar de pássaros e flores, enquanto que as da cidade são sempre mais pesadas, mais esquizofrénicas.
Perg. – Há pouco falaste que gostavas de fazer coisas para crianças. Já alguma vez fizeste um programa destinado a esse tipo de público?
Resp. – Já. O Júlio Isidoro convidou-me para fazer uma música sobre castanhas, para o programa “Arte & Manhas”, mas o programa foi adiado e nunca chegou a ser gravado. Recentemente foi gravado um disco com as músicas dessa série e eu canto essa música. Perg. - O que sentes ao gravar para crianças? Resp. – Sinto-me diferente.
Perg. – Achas que em Portugal é possível viver, somente, à custa da música?
Resp. – Eu já cá estou há nove meses e vou sobrevivendo. Não é nada fácil apesar de eu ter um bom acesso à televisão.
Perg. – Sentes-te influenciado por alguém em especial?
Resp. - Em especial, não. Sinto-me mais influenciado por aqueles que têm mais força, pelos que morrem sem ter atingido os seus objectivos, pelos que morrem no auge da sua força. Perg. – Como por eemplo Woodie Ghthrie? Resp. – Sim. São pessoas que toda a energia que fizeram na vida, depois de morrerem, multiplicou-se. Gosto muto do John Lennon, como compositor, como poeta.
Perg. – Quando actuas, o teu cachet é elevado?
Resp. – Depende. Há casos em que cobro cachet, outros casos não, pois se a pessoas que contrata puder pagar, é lógico que cobro; no entanto, se não puder pagar, eu não cobro esse cachet e actuo de borla, mas as entradas também têm de ser de borla.

FIM

06/08/08

Entrevista... Jorge Palma

Segunda parte de uma entrevista ao Jorge Palma, após a edição do seu disco "Qualquer Coisa Pá Música", em 1979.

Perg. – Quais as influências que tens do Sérgio Godinho?
Resp. – Pessoais, são porreiras. Espirituais, são ainda mais porreiras. A primeira vez que o encontrei, foi em Paris. Foi num dia em que fui comprar tabaco a um café onde não era costume ir, e quando ia a sair do café deparei-me com ele e falamos. No dia seguinte estava a tocar no metro numa carruagem e o Sérgio entrou e a partir dessa altura ficámos grandes amigos. Quanto ao ponto de vista musical, acho que ele tem bastante talento, que é um valor muito válido para a música Portuguesa e como tal, tenho algumas influências dele. Na minha opinião, dentro da música Portuguesa ele é um deus
Perg. – Tu condicionas-te somente a um estilo musical?
Resp. - Não, o tipo de música que se toca depende do estado de espírito de uma pessoa. O Blue Grass é um estilo musical que fala de desastres, dramas, e que tem ritmo e por isso torna-se um bocado alegre. Por sua vez o Jazz e o Blues são do género mais triste. Como disse, acho que a música depende do estado de espírito.
Perg. – Qual o principal estilo de música que mais te influencia?
Resp. – Não há um estilo que se possa dizer principal. Já tive momentos em que era mais influenciado pelo Jazz, outras pelo Country e actualmente estou mais influenciado pelo chamado folclore. É por isso que agora penso fazer uma volta por Portugal, terra a terra. Em França convivi com todo o tipo de camadas sociais, o que não acontece cá em Portugal, talvez por as camadas estarem mais fechadas, entre barreiras, do que lá.
Perg. – Não há nada que te impeça de ir pelo país, por exemplo ao Norte, tradicionalmente mais fechado?
Resp. – No norte nunca experimentei, mas em Faro e Setúbal tive grande aceitação, o que já não aconteceu em Vila Real de S. António, pois os senhores de mais idade olhavam para mim com uma cara, como se estivessem com medo.
Perg. – Quando estás a compor, em que pensas?
Resp. – Quando estou a compor? Já passei por uma fase em que me preocupava com o que ia dizer, agora já não.
Perg. – Porquê?
Resp. – A malta é comodista, pois todos querem ter tratamento de rei, e por isso não quero criar compromissos de ficar em dúvida. A partir de certa altura da vida, quando se tem família, já não podemos dizer que fizemos alguma coisa mal, pois já está tudo organizado.
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05/08/08

Entrevista... Jorge Palma

Primeira parte de uma entrevista ao Jorge Palma, após a edição do seu disco "Qualquer Coisa Pá Música", em 1979.

Perg. - Quem é o Jorge Palma?
Resp. – Quem sou eu? Bela pergunta com milhões de respostas e mais interpretações ainda. Sinceramente, não estou certo de conhecer a resposta verdadeira e como tal respondo que sou alguém que como toda a gente tem direito a ser livre e estou disposto a lutar por isso, enquanto tiver força. Alegremente.
Perg. – Há três anos editaste um disco, “Té Já”, mas esse “Té Já” durou este tempo todo. O que fizeste durante estes três anos?
Resp. – Quando acabei de gravar o disco tive uma hepatite e depois tive um mês no hospital. Em seguida fui para Espanha, tendo sido a primeira vez que fui só com a guitarra, tocar na rua. Estive lá três meses e depois voltei a Portugal e o disco ainda estava por editar. Foi editado enquanto eu cá estava. Depois fui para França, onde estive dois anos e durante esse tempo andei por Paris, fui até Inglaterra e Alemanha. Andei por aí, pelo mundo fora, até Agosto de 1979, altura em que regressei a Portugal. Durante esse tempo todo, fiz músicas, cantei no metro, festas, bares e conheci o Blue Grass, um tipo de música de que gostei muito e porque sou bastante influenciado.
Perg. – O que sentes quando tocas no Metro e te dão esmolas, e logo a seguir vais para a TV?
Resp. – Quando estou a tocar no metro, sinto-me bem, mais livre, mais à vontade, mais despreocupado. No metro toco o que me apetece e as pessoas dão o que querem e o que lhes apetece. Na TV, uma pessoa sente-se mais responsabilizada, não se pode ser extra reaccionário, nem radical. Na TV é mais difícil.
Perg. – Recentemente numa entrevista na televisão, fizeram-te uma pergunta sobre os comprimidos que tomavas, se ainda os continuavas a tomar. Lembro-me que respondeste espontaneamente à questão e com bastante à vontade. Porquê essa descontracção na resposta?
Resp. – É tipo impulso, estou a ser arrastado pelo pensamento de que há uma câmara e que de vez em quando corta. Estando à vontade, ninguém me pode incomodar.
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03/08/08

James Jackson Toth... Waiting In Vain

Sem estarmos perante um disco deslumbrante, “Waiting In Vain” editado recentemente por James Jackson Toth, é um trabalho interessante. Num estilo folk com influências da cena indie / rock americana, onde estão bem patentes as influências de Neil Young, Wilco ou Bonnie “Prince” Billy. James Jackson Toth proporciona-nos um disco agradável de ouvir com alguns temas muito interessantes, principalmente “Look In On Me”. Este seu primeiro trabalho oficial – pois James Jackson Toth limitava-se a vender CDr nos concertos - é aquele género de disco que merece ser ouvido, apesar de não ter nenhum tema que, possamos dizer, nos surpreenda ou nos maravilhe. Disco produzido por Steve Kisk, que foi produtor dos Nirvana ou Soul Coughing e editado pela Rykodisk.

01 – Nothing Hides
02 – Doreen
03 – The Banquet Styx
04 – Look In On Me
05 – Becoming Faust
06 – Poison Oak
07 – Midnight Watchman
08 – Beulah The Good
09 – The Park
10 – Do What You Can
11 – My Paint
12 – The Dome

Nota - 7/10

30/07/08

Entrevista... Sarabanda

Terceria parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos Sarabanda, publicada no dia 27 de Junho de 1981, no suplemento "Som 80", que fazia parte do jornal "Portugal Hoje".

Perg. – Achas que o mercado Português já está preparado para aceitar o Rock feito pelos Portugueses?
Resp. – Está a começar. A razão que justifica isso é o facto de as editoras se mostrarem interessadas. Se elas estão interessadas em fazer discos, demonstra que estão a obter lucro, e se isso acontece é porque há mercado.
Perg. – A música que se faz em Portugal, já tem qualidade para poder ir além-fronteiras?
Resp. – Isso é um grande problema. Já há muita música feita em Portugal que tem qualidade, até qualidade superior a alguma da música que se faz no estrangeiro. O problema que se coloca é o das companhias de discos. O grande problema que a nossa música tem em sair, é conseguir entrar e furar as grandes máquinas que existem no estrangeiro.
Perg. – Através dos poemas das vossas músicas, tentam dar alguma mensagem às pessoas que os escutam, ou o importante é que o pessoal curta a música?
Resp. – Interessa é que a música se toque e que haja qualquer coisa nas letras. A Cris escreve letras o máximo acessíveis, directas e simples e com qualquer coisa para dizer.
Perg. – O que é que achas da lei que obriga a rádio a passar 50% de música Portuguesa?
Resp. – Acho muito bem e vital.
Perg, - Quais as possíveis consequências?
Resp. – Consequências? É como aquilo que disse há pouco; começam a aparecer variadíssimos estilos e coisas que estão gravadas. Muita gente vai começar a definir-se dentro da música que é feita em Portugal. Também vão aparecer coisas absolutamente ridículas, de péssima qualidade. Como vão passar muita música, têm de ir buscar coisas antigas.
Perg. – Quais os planos que os Sarabanda têm para o futuro?
Resp. – Há qualquer coisa para a África do Sul mas que ainda não está confirmada. Vamos estar em vários programas na TV e espectáculos um pouco pelo país todo.

FIM

29/07/08

Entrevista... Sarabanda

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos Sarabanda, publicada no dia 27 de Junho de 1981, no suplemento "Som 80", que fazia parte do jornal "Portugal Hoje".

Perg. – O vosso disco tem uma música dedicada a John Lennon. O que é que sentiam por ele e quais as influência que têm dele, do ponto de vista musical?
Resp. – Musicalmente posso dizer que a minha escola, é a escola Beatles para além das tendências da música clássica de que tenho muitas influências. Aprendi quase tudo com os Beatles quando comecei a tocar., comecei a ler as pautas dos Beatles e portanto era muito importante a todo o nível, até porque Lennon era, não sei se a cabeça do grupo, mas era o intelectual, e portanto aquilo que ele escreveu como poeta, teve uma influência muito forte e isto principalmente por parte da Cris. Ela sentiu mesmo muito, está muito ligada a isso, e quando começou a praticar viola, foi muito influenciada por ele. Foi por isso que sentimos a legitimidade para oferecer uma homenagem ao John Lennon.
Perg. – Quais outras influências?
Resp. – Do lado da Cris, musicalmente, ela está muito dentro da onda clássica, como por exemplo Vivaldi. Para além de Vivaldi, há a faceta da música americana, de que falei há ouço.
Perg. – O que acham deste movimento de grupos Rock que apareceu no ano passado?
Resp. – Acho muito bom.
Perg. – Achas que se pode considerar um movimento?
Resp. – Acho que sim.
Perg. – Na tua opinião será algo efémero, ou é para ficar?
Resp. – Acho que é muito bom uma vez que aparece muita gente, e de certeza que ao fim de determinado tempo vão ficar definidos aqueles que ficam, e isso é importante. É preciso é que apareça malta e que tenha oportunidade de se mostrar, de aparecer e mostrar a sua música; ao fim de um determinado espaço de tempo vai-se definir quem são realmente aqueles que tocam bem, que são importantes, que têm força e que as pessoas querem e precisam de ouvir.
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28/07/08

Entrevista... Sarabanda

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos Sarabanda, publicada no dia 27 de Junho de 1981, no suplemento "Som 80", que fazia parte do jornal "Portugal Hoje".

Os Sarabanda são formados por Cris Kopke e Armando Gama (Ex-Tantra), e têm já no se activo vários singles gravados, um LP e várias idas à TV. Na sequência do sucesso obtido com o seu mais recente trabalho, o LP “Export”, fomos entrevistá-los. Infelizmente a Cris Kopke não pode estar presente tendo a entrevista sido feita ao Armando Gama.
Perg. – Como e quando é que surgiu a ideia da formação dos Sarabanda?
Resp. – Armando Gama – Eu estava em tournée com os Tantra, onde tocava, e encontrei-me com a Cris no Algarve. Passado um ano de nos conhecermos, chegámos à conclusão que tinha de haver um grupo, que éramos nós os dois e isto porque existia muita afinidade musical, e ela tinha os mesmos gostos e a mesma cultura musica do que eu. Então começámos a cantar juntos e verificámos que as vozes harmonizavam muito bem; então ela começou a praticar viola, juntámo-nos, e a partir daí, começámos a tocar em bares.
Perg. – Com que linha ou onda musical é que vocês se identificam?
Resp. – Nós temos uma linha um bocado variável, desde Beatles, Simon & Garfunkel e também da música de Cole Porter dos anos 40 e 50.
Perg. – Mas este LP, relativamente aos trabalhos anteriores, já mostra uma certa mudança de estilo…Resp. – Este disco é precisamente um bocadinho da variedade do nosso trabalho. Não é uma mudança de estilo, antes pelo contrário, é o resultado de todo este tempo de três anos, dos muitos géneros musicais que conseguimos tocar.
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27/07/08

Recortes... Xutos e Pontapés

Foto dos Xutos e Pontapés em Janeiro de 1982, altura em que o autor deste blog lhes fez uma entrevista que foi publicada no jornal Musicalíssimo no dia 01 de Fevereiro do mesmo ano e que será publicada brevemente neste blog.

20/07/08

Guns N' Roses - Appetite For Destruction


Numa altura em que volta a ser falada a edição do álbum Chinese Democracy, que já leva cerca de catorze anos de preparação e algumas músicas já circulam na net, tomo a liberdade de colocar neste espaço aquele que, na minha opinião, é o melhor disco de sempre dos Guns N’ Roses, Appetite For Destruction.
Lançado numa altura em que o Heavy Metal andava “pelas ruas da amargura”, os Guns N’ Roses deram uma lufada de ar fresco na entediante e penosa onda Heavy. É um disco fabuloso, com riffs de guitarra soberbos. Alguns dos maiores hits dos Guns fazem parte deste disco, como por exemplo Sweet Child O’Mine, Welcome To The Jungle ou Pardise City, para mencionar só alguns. Realce ainda para a excelente capacidade vocal de Axl Rose e os bons pormenores ao nível das guitarras por Izzy Stradlin e, principalmente, Slash que se tornou um verdadeiro Guitar Hero.
Appetite For Destruction é um disco fundamental e, como tal, considerado um dos melhores álbuns de sempre.

01 – Welcome To The Jungle
02 – It’s So Easy
03 – Nightrain
04 – Out Ta Get Me
05 – Mr. Brownstone
06 – Paradise City
07 – My Michelle
08 – Think About You
09 – Sweet Child O’ Mine
10 – You’re Crazy
11 – Anything Goes
12 – Rocket Queen

Nota – 10/10

22/06/08

Chingon - Mexican Spaghetti Western

Chingon é o agrupamento fundado pelo realizador de cinema Robert Rodriguez. Formado por músicos de Austin, por Carl Thiel e Rafael Gayol dos Bob Schneider's Band, Cecilio Ruiz dos HeeBeeHeeBee's e do grupo rock espanhol Del Castillo. Sem ser um disco extraordinário, este Mexicn Spaghetti Western é um trabalho divertido, alegre e interessante, onde existe uma fusão do rock puro (através de constantes solos de guitarra) e a música mexicana (criando o ambiente Maricahi).

01 - Se Me Paró
02 - Malaguena Salerosa (La Malaguena)
03 - Fideo Del Oste
04 - Severina
05 - Alacran Y Pistolero
06 - El Rey De Los Chingones
07 - Bajo Sexto
08 - Cielito Lindo
09 - Mexican Sausage Link
10 - Siente Mi Amor
11 - Cuka Rocka

Nota - 7/10

29/05/08

Entrevista... King Fisher's Band

Terceira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos King Fisher's Band, minutos antes de iniciarem um concerto no Rock Rendez-Vous

Perg. – Consta que vocês vão tocar com a Dina. Podem adiantar alguma coisa em relação a isso?
Resp. – Nós tocámos na “Febre de Sábado de Manhã”, num dia em que a Dina estava presente. Ela gostou muito do nosso som e pediu-nos para fazermos um disco com ela.
Perg. – Mas a linha musical da Dina é muito diferente da vossa. Não acham que isso possa fazer com que muitas pessoas criem uma imagem errada do vosso grupo?
Resp. – Nós somos músicos profissionais e achamos que a música é tudo. Não temos problemas de fazer uma gravação para uma pessoa qualquer e isso não vai alterar a nossa imagem.
Perg. – Não altera, segundo o vosso ponto de vista, mas pode alterar para muitas pessoas.
Resp. – Tem que se começar a quebrar essas barreiras que existem aqui em Portugal. As pessoas têm que meter na cabeça que os músicos podem fazer tudo. A música não tem fronteiras.
Perg. – Vocês sentem-se integrados no chamado Movimento Rock Português?
Resp. – Acho que sim. Qualquer pessoa que esteja viva, está integrada nele. O movimento é geral.
- Isso veio abrir uma quantidade de hipóteses para toda a gente trabalhar e em moldes diferentes do que se trabalhava. Abriu muitos campos.
Perg. – Agora, e para terminar, gostava que me dissessem quais as vossas principais influências.
Resp. – As nossas principais influências são o Crosby, Stills, Nash & Young, Simon & Garfunkel e James Taylor. O nosso primeiro instrumento é a voz, e a partir daí é que fazemos o resto, a música. A voz é o instrumento natural que temos e há que trabalhá-lo, educá-lo. Nós agora até estamos a pensar em colaborar na gravação de discos de alguns músicos, mas com a voz. A nossa música baseia-se na nossa voz.

FIM

28/05/08

Entrevista... King Fisher's Band

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos King Fisher's Band, minutos antes de iniciarem um concerto no Rock Rendez-Vous

Perg. – Vocês concorreram ao “Só Rock” com a música “Roda na Roda”. Atendendo a que se tratava de um festival de rock, não acham que isso não batia muito certo?
Resp. – Na realidade, não batia certo. Aquilo era um festival de rock português. Tudo aquilo que se fez lá não tinha nada a ver com a música portuguesa em si. O outro tema que tocámos “Mosteiro da Batalha” já se inseria mais numa onda de rock.
- Eu acho que o rock português é um bocado limitado. Por um lado é a fotocópia de outros grupos estrangeiros, pois há quem tente fazer um som idêntico; por ouro lado há uma limitação muito grande no factor do som e as pessoas não se aventuram muito. O festival “Só Rock” era mesmo só de rock, mas na visão estrita do rock isso já era uma limitação. O que nós tocámos foi folk / rock e acho que o rock pode estar ligado ao folk.
Perg. – Qual a importância que esse festival teve na gravação do vosso primeiro single?
Resp. – Nós concorremos ao “Só Rock” só para tentar sacar material. A nível discográfico, quando foi o “Só Rock”, já tínhamos contactos com a Polygram e outras editoras, entre as quais a Rossil e a Sassetti.
Perg. – Então se existiam essas hipóteses, o quê que vos levou a optar pela Vadeca, com más condições de gravação?
Resp. – Isso foi uma precipitação nossa. Nós queríamos gravar o disco e havia muitas pessoas que queriam que o gravássemos, e fomos levados por essa pressão e pelo entusiasmo de gravar.
- Acabámos por fazer uma autêntica merda e fomos prejudicados.
- Agora esperamos gravar, pelo menos “A Roda”, neste nosso primeiro LP que vai ser gravado para a Polygram.
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27/05/08

Entrevista... King Fisher's Band

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos King Fisher's Band, minutos antes de iniciarem um concerto no Rock Rendez-Vous

Ao contrário do que muita gente pensa, nem todos os grupos que vão editando alguns discos de música Portuguesa, são grupos rock pertencentes ao chamado Movimento Rock Português. Felizmente existe um grupo que apesar de ter concorrido ao “Só Rock”, não se integra exclusivamente nesse tão falado movimento. A sua música, apesar de ter algumas influências do rock, é numa linha folk / country que, por vezes, nos faz lembrar Simon & Garfunkel ou Crosby, Stills & Nash. É dentro nesse estilo - com grandes influências desses músicos - que se insere a música dos King Fisher’s Band grupo oriundo do Porto e que recentemente se deslocou a Lisboa para actuar no Rock Rendez-Vous. Escusado será dizer que foi aproveitada essa altura para os entrevistar.
Perg. – Qual a actual formação dos King Fisher’s Band?
Resp. – (Orlando Mesquita) – O grupo tem uma formação muito especial: sou eu, no baixo e voz e o meu irmão Jorge Mesquita, na viola acústica e voz. Depois os restantes elementos são músicos flutuantes. Actualmente os que se encontram a tocar connosco são: Carlos Araújo, na guitarra e que também toca nos Trabalhadores do Comércio; Quico, nas teclas, que também toca nos Salada de Frutas; o Zé Rato na bateria e ainda um outro baterista que é o Pedro Taveira.
Perg. – Como é que se identificam musicalmente?
Resp. – O nosso trabalho não tem limites. Estamos numa de música em geral. No nosso single “Roda na Roda”, a onda foi a música popular portuguesa, mas não vamos ficar por aqui. Actualmente o que tocamos é o folk / rock, apesar da música popular portuguesa ser uma base do nosso trabalho.
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11/05/08

Cats On Fire - The Province Complains

Cats On Fire são um grupo formado em 2001 em Vasa na Finlândia. Após várias mudanças nos membros do grupo, houve uma certa estabilidade a partir de 2004, com Bjorkas na voz, Ville Hopponen na guitarra, Kenneth Hoglound no baixo e Henry Ojala na bateria. Durante os anos de 2003 e 2004 editaram alguns EPs; o primeiro álbum surgiu em 2007.
Intitulado The Province Complains, este trabalho é composto por 12 temas. Um bom disco Pop, repleto de canções agradáveis. Do primeiro ao último tema, as influências de Morrissey e dos seus Smiths são evidentes. Longe da frieza a que nos habituaram os grupos do Norte da Europa, os Cats On Fire fazem uma música simples que nos cativa e da qual é muito difícil não gostar. “I Am the Wuite-Manteled King” e “The Smell Of An Artist”, são temas ritmados que fazem com que não consigamos ouvi-los sem dar um passo de dança; já “Chain Of Saints” é uma boa balada.
Em resumo, um excelente disco; aquele género de disco que “sabe sempre bem” ouvir.

01 – I AmThe White-Mantled King
02 – Astray
03 – Higher Grounds
04 – Heat And Romance
05 – Born Again Christian
06 – The Smell Of An Artist
07 – Chain Of Saints
08 – Mesmer And Reason
09 – If You Must Tell Him
10 – The Sharp End Of A Season
11 – Draw In The Reins
12 – End Of Straight Street

Classificação: 7/10

30/03/08

Wish You Were Here

Após o enorme êxito de "Dark Side Of The Moon", os Pink Floyd lançaram este disco dedicado a um dos seus fundadores, Syd Barrett, que tinha abandonado a banda em 1968. O som do grupo nunca mais foi o mesmo, pois com Barrett era mais psicadélico, fruto das drogas usadas. "Wish You Were Here" é, na minha opinião, um dos melhores discos de sempre da história da música. Com apenas cinco temas é um disco de onde não se pode extrair uma música e dizer "é a melhor". À excepção de Have a Cigar, que aparece um bocado fora de contexto, é um disco maravilhoso onde, nem os temas grandes como "Shine On You Crazy Diamond", com cerca de treze minutos, nos cansam.

01 - Shine On You Crazy Diamond, Pts 1-5
02 - Welcome To The Machine
03 - Have a Cigar
04 - Wish You Were Here
05 - Shine On You Crazy Diamond, Pts 6-9

Classificação - 10/10

17/02/08

Nusrat Fateh Ali Khan - Night Song


Nusrat Fateh Ali Khan nasceu em Lyallpur no Paquistão no dia 16 de Outubro de 1948. Dono de uma inconfundível e fabulosa voz era considerado pela critica, quase unanimemente, como sendo a melhor voz dentro do seu estilo musical, Qawwali. Ali Khan faleceu no dia 16 de Agosto de 1997, em Londres. A sua carreira foi recheada de momentos altos e serviu de inspiração para muitos músicos por todo o mundo, sendo considerado por Jeff Buckley "O meu Elvis". Chegou a participar com Eddie Vedder na banda sonora do filme "Dead Man Walking". "Night Song" é, a par dos seus trabalhos "Shahbaaz" de 1991 e "Devotional Songs" de 1992, um dos seus discos fundamentais. Numa linha onde apresenta um Qawwali menos purista e conservador, graças à colaboração com Michael Brook, "Night Song" torna-se um disco mais acessível para quem não conhece a obra deste músico. É um disco fabuloso e obrigatório, com oito belíssimos temas que nos enchem de prazer e alegria, que nos deixam completamente siderados. A sua voz, quase celestial, é uma verdadeira pérola.

01 - My Heart, My Life
02 - Intoxicated
03 - Lament
04 - My Comfort Remains
05 - Longing
06 - Sweet Pain
07 - Night Song
08 - Crest

Nota - 10/10

07/02/08

Entrevista... CTT

Terceira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos CTT e que foi publicada no jornal Musicaíssimo no dia 04 de Maio de 1982

Perg. – A nível de discos, pensam editar alguma coisa cantada em inglês?
Resp. – Não. A nossa língua é o português e como tal gravamos em português. Não dá para gravarmos em inglês.
Perg. – O público reage melhor quando vocês cantam em inglês ou em português?
Resp. – Reage melhor quando os temas são cantados em português, porque já há uma certa saturação ao rock inglês, ao passo que o rock português é novo e as pessoas vibram com a língua.
Perg. – Quanto a projectos para o futuro, o que é que os CTT têm na manga?
Resp. – Um álbum.
Perg. – Para quando?
Resp. – É difícil dizer pois ainda temos de chegar a acordo com a editora.
Perg. – A editora não vos dá essa hipótese?
Resp. – Não. Apoiam mais uns do que outros. Isto a nível de editoras é uma burocracia autêntica. Se uma promoção for bem feita, nós também conseguimos obter êxito que dê dinheiro à editora. Mas, até termos a tal reunião, não podemos adiantar mais nada.

FIM

06/02/08

Entrevista... CTT

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog aos CTT e que foi publicada no jornal Musicaíssimo no dia 04 de Maio de 1982

Perg. – Vocês em palco têm uma mímica forte. Isso é feito com a intenção de agarrar o público ou é simplesmente a vossa maneira de actuar?
Resp. – Se eu estivesse parado não dava para o pessoal entender aquilo que queria dizer, pois sabes que ao vivo é bastante difícil ouvirem-se as palavras que saem do PA e aquelas que provavelmente não se apanham, eu tento dizer na mímica. Com isto as pessoas ficam agarradas, não só ao espectáculo, como compreendem mais ou menos aquilo que estou a dizer, a transmitir,
Perg. - Como vês o rock que actualmente se faz em Portugal?
Resp. – Como não podia deixar de ser, existem grupos bons e grupos maus. Isto está porreiro mas ainda há muito trabalho a fazer. As editoras têm interesse de ganhar dinheiro e isso não ajuda os grupos a evoluírem. Há mais uma caça à música comercial para tentarem ganhar dinheiro à custa da venda dos discos.
Perg. – Nos vossos espectáculos, cerca de 50% da música que tocam não é da vossa autoria, são versões de grupos estrangeiros. Como é que explicam isto?
Resp. – Nós estamos a trabalhar para que o nosso reportório seja de quatro horas de rock cantado em português e esperamos concretizar esse projecto brevemente.
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05/02/08

Entrevista... CTT

Primeira parte de uma entrevista aos feita pelo autor deste Blog aos CTT e que foi publicada no jornal "Musicalíssimo" no dia 04 de Maio de 1982.

Os CTT, são uma banda oriunda de Torres Vedras. Constituída por Luís Plácido na voz, Nani na guitarra, Augusto nas teclas e Tó Zé no baixo, contam já com 19 anos de carreira, sendo, inicialmente um agrupamento de música folclórica. Aproveitando o boom do rock português e ao acompanhar a moda, “viraram” para o rock. Após uma pequena apresentação da banda, passemos à entrevista que foi feita em vésperas de actuação no Rock Rendez-Vous.
Perg. – Como é do conhecimento geral, vocês surgiram como grupo de raízes folclóricas e actualmente estão numa linha de rock. Luís Plácido, achas que essa mudança pode ser considerada como uma evolução por parte do grupo?
Resp. – Pode. É uma evolução do grupo. Começámos pela música de folclore porque é a base da música portuguesa. Depois chegámos ao rock e acho que isso, essa mudança, é uma evolução que estamos a conseguir.
Perg. – Há pouco, em conversa, falaste que a Polygram vos dá pouco apoio ao nível de promoção. Por exemplo ao nível do rock, talvez vos marginalize em comparação com os Táxi.
Resp. – Sim, e de que maneira. Evidencia-os de uma maneira e a nós rebaixa-nos, isto talvez porque a música dos Táxi é mais comercial.
Perg. – O vosso contrato com a Polygram terminou recentemente. Está prevista uma renovação?
Resp. – O nosso contrato dizia que quando ele acabasse, se nenhuma das partes se pronunciasse em contrário, continuava por mais um ano. Nem nós nem eles nos pronunciámos, e como tal o contrato continua. Agora vamos ter uma reunião com um membro da editora para falarmos sobre o contrato e outros problemas existentes, mas que de momento, não interessa falar.
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20/01/08

Virginia Astley - From Gardens Where We Feel Secure

Virginia Astley iniciou a sua carreira como membro do grupo Ravishing Beauties, juntamente com Kate St. John e Nick Holland. O seu primeiro disco a solo foi justamente este “From Gardens Where We Feel Secure, onde estão bem patentes as grandes influências de Brian Eno. É um disco simplesmente maravilhoso, indivisível e repleto de ambientes paradisíacos. Basicamente instrumental, durante os seus nove temas, transmite-nos uma paz de espírito verdadeiramente indescritível, uma beleza musical impressionante com músicas muito bem elaboradas que fazem com que nos consigamos alhear de tudo o que nos rodeia. Fica-se como que hipnotizado, irresistivelmente atraído.

01 – Morning: With My Eyes Wide Open I’m Dreaming
02 - Morning: A Summer Long Since Passed
03 - Morning: From Gardens Where We Feel Secure
04 - Morning: Hiding In The Ha Ha
05 – Afternoon: Out On The Law I Lie In Bed
06 - Afternoon: Too Bright For Peacocks
07 - Afternoon: Summer Of Their Dreams
08 - Afternoon: When The Fields Were On Fire
09 - Afternoon: It’s Too Hot To Sleep

Nota – 10/10

06/01/08

Walkabouts - Devil's Road


Gravado com a Warsaw Philharmonic Orchestra é o género de disco simultanemente sombrio, denso, mórbido, e extremamente melódico. A banda liderada por Chris Eckman e Carla Togerson apresenta-nos onze canções que passados doze anos continuam belas, apaixonantes e tocantes, sendo um daqueles casos em que quanto mais se ouve mais se gosta, onde constantemente descobrimos pormenores que nos tinham passado despercebidos da última vez que ouvimos. É impossível ficar-se indiferente quando se escuta, por exemplo, "The Light Will Stay One" ou "The Leaving Kind", este último com a participação de Dichon Hinchcliffe violinista dos Tindersticks, e com um memorável solo de guitarra de Carla Togerson.
Extremamente bem tocado e bem interpretado, com uns arranjos perfeitos, quase imaculados.
Sem dúvida alguma, um daqueles discos que daqui por muitos anos vamos continuar a ter prazer em ouvir e em descobrir algo novo, nestes inolvidáveis temas.

01 - The Light Will Stay On
02 - Rebecca Wild
03 - The Stopping Off Place
04 - Cold Eye
05 - Christmas Valley
06 - Blue Head Flame
07 - When Fortune Smiles
08 - All For This
09 - Fairground Blues
10 - The Leaving Kind
11 - Forgiveness Song

Nota - 9.5/10