05/11/11

Walkabouts... Travels In The Dustland

Seis anos após a edição do seu último álbum de originais, "Acetylene", os Walkabouts estão de regresso às edições discográficas, com um disco surpreendente.
Este "Travels In The Dustland" surpreende, não porque exista uma inovação na música do grupo, ou surja algum pormenor peculiar em termos de produção ou sonoridade. Nada disso: este disco surpreende pelo seu equilíbrio, pela sua vertente melodiosa e sedutora, e pela sua qualidade.
Os Walkabouts, formaram-se em 1984 na cidade de Seattle. que na altura vivia o período áureo do grunge. Mais de vinte e cinco anos depois, o grupo liderado por Chris Eckman e Carla Torgerson continua a ter a capacidade de nos presentear com bons discos, e demonstrar que a sua criatividade se mantém incólume.
"Travels In The Dustland" é composto por onze canções, algumas cantadas por Carla Torgerson, outras por Chris Eckman e uma delas em forma de dueto.
Logo a abrir o disco, surge "My Diviner", com o som de uma slide guitar que permanece durante toda a música a servir de base à sedutora voz de Carla, num tema em jeito de balada, daquelas que só eles sabem fazer tão bem e que nos cativam à primeira audição.
Em "The Dustlands" e "Soul Thief", é a vez de Chis Eckan entrar em acção para dois temas menos calmos, mas sempre melódicos e com bons pormenores em termos instrumentais. Se no segundo tema do disco a voz de Chris aparece algo distorcida, o que na minha opinião era perfeitamente evitável, já em "Soul Thief", um tema forte para espectáculos ao vivo, aparece naquele tom a que nos habituou, quer como membro dos Walkabouts, quer na sua carreira a solo.
Segue-se "They Are Not Like US", que nos traz um dos momentos mais belos do disco. Carla, num tema extremamente calmo, é acompanhada básicamente por um piano, e em algumas partes ouve-se a voz de Chris em jeito de sussurro, numa canção maravilhosa e com o poder de nos relaxar, aquele poder que só algumas canções têm, e só alguns músicos o conseguem transmitir.
Os Walkabouts são peritos nisso, mas também são peritos em nos despertar para a realidade e fazer com que voltemos a vibrar com temas mais enérgicos como "Thin Of The Air", com a predominância da voz de Carla acompanhada pelo sussurro de Chris, desta feita num tema mais ritmado e com uma excelente parte orquestral. Não sendo um dos bons temas do disco, ouve-se com bastante agrado, bem como o tema que se segue, "Rainmaker Blues", cantado por Chris e onde são visíveis algumas influências que o grupo tem de Blues. No entanto, estes dois temas são, na minha opinião, os menos conseguidos deste disco.
Segue-se o tema mais longo do disco, "Every River Will Burn", e, como em todos os temas longos da discografia dos Walkabouts, ficamos maravilhados com os pormenores musicais das guitarras que só este grupo consegue fazer, principalmente através dos "dedos" de Carla Torgerson. Aquela forma de tocar em que se entra no acorde seguinte sem se sair do anterior é algo que a mim me fascina, e Carla Torgerson faz isso melhor do que ninguém, criando um elo de ligação entre cada acorde. Neste tema, o solo de Carla pode estar longe do brilhantismo de "Train to Mercy" do álbum "Scavenger", mas é na mesma fabuloso, como fabuloso é o solo do tema seguinte, "No Rhyme, No Reason", cantado por Chris Eckman, num estilo mais rock, e que antecede o melhor tema deste disco, a balada "Wild Sky Reverly". Com um fundo musical em que sobressai o som da slide guitar e de um piano, a voz de Carla Torgerson é simplesmente bela, numa canção ideal para ouvir num bar em ambiente de fim de noite, quando os nossos corpos estão cansados de mais um dia em que sobrevivemos num mundo cada vez pior, numa sociedade sem valores. Esta música tem o dom de conseguir com que nós a interiorizemos, e dessa maneira transporta-nos para longe, não para um mundo perfeito pois esse não existe, mas sim para um ambiente em que nos conseguimos alhear das coisas más que nos rodeiam, e são estes pequenos momentos e prazeres que fazem com que a música deste grupo seja, acima de tudo, bela.
Depois de um raro momento de beleza, eis que surge "Long Drive In a Slow Machine", cantado por Chris Eckman naquele que será, seguramente, o melhor tema deste disco para ser tocado ao vivo. Bem ritmado, um refrão fácil e contagiante, a boa voz de Chris Eckman e um excelente solo de guitarra de Carla Torgerson, fazem com que este seja o eleito para para criar um ambiente de apoteose em final de concerto.
E, para terminar, nada melhor do que mais uma balada, desta vez em jeito de dueto, com Chris e Carla. "Horizon Fade", não sendo um tema brilhante, é aquele tipo de canção que num disco pode ser entendido como uma espécie de agradecimento por parte do grupo a quem os ouviu, mas quem tem de agradecer, é quem ouve, pois a música dos Walkabouts faz-nos felizes.

01 - My Diviner
02 - The Dustlands
03 - Soul Thief
04 - They Are Not Like Us
05 - Thin Of The Air
06 - Rainmaker Blues
07 - Every River Will Burn
08 - No Rhyme, No Reason
09 - Wild Sky Reverly
10 - Long Drive In a Slow Machine
11 - Horizon Fade

Nota - 9/10

P.S. - Vi Walkbouts no dia 09 de Outubro de 2009 na Aula Magna em Lisboa, no dia 10 de Outubro no Hard Club em Vila Nova de Gaia e no dia 12 de Agosto de 2000 em Paredes de Coura.
Espero que voltem a Portugal este ano, ou em 2012. Se vierem, eu vou.