28/02/18

Ao vivo... Tricky


Data - 27 de Fevereiro de 2018
Local - Lisboa ao Vivo
Notas - Durante quase duas horas, Tricky proporcionou um bom concerto, prejudicado apenas pelo comportamento do público, que grita onde não deve, assobia onde não convém, insiste em filmar, tira fotografias por tudo e por nada recorrendo estupidamente ao uso do flash, tendo levado inclusivamente a uma chamada de atenção por parte do músico inglês.
Este tipo de situações é perfeitamente evitável, não só por uma questão de respeito para com o músico, mas também por respeito para com o restante público que não tem de estar - passe a expressão - a levar com a luz proveniente dos aparelhos de quem está à sua frente. Para além desta "cruz" dos telemóveis e aspirantes a fotógrafos, não seria má ideia que o público participasse, cantasse ou assobiasse somente nos devidos momentos, não quando lhes apetece, pois existem certas músicas para serem ouvidas em silêncio tal a sua densidade e obscuridade, acabando esses comportamentos por cortar a magia sentida ao escutar determinados temas... e na música de Tricky, isso é por demais evidente.
Após este pequeno desabafo, passemos ao que interessa: análise do concerto.
Nesta digressão por salas pequenas, o génio nascido em Bristol apresenta um alinhamento baseado nos seus mais recentes trabalhos, Uninform de 2017 e Skilled Mechanics de 2016, sem no entanto deixar de visitar os seus grandes temas de culto de outrora, como por exemplo Overcome ou Hell Is Around The Corner do seu disco de estreia Maxinquaye de 1995, ou Vent de Pre-Millennium Tension de 1996, passando ainda por temas de False Idols de 2013 ou Blowback de 2001.
Em palco a sua postura é a mesma de sempre, sombrio, obscuro, luzes escuras a incidir preferencialmente nas costas dos músicos, e no seu jeito muito peculiar, Tricky dança, numa dança  serpentear e sensual, sexual, na qual vai simulando um rasgar de T-shirt que nunca acontece, de "cigarro" na mão, constantemente a fumar, a tocar-se e a tocar-nos com a sua forma de cantar, o seu sussurrar profundo que nos deixa siderados, e quando se tem a sorte de estar na primeira fila, junto ao gradeamento, essa sensação é indescritível.
Acompanhado por um leque de excelentes músicos, com destaque para a imprescindível e carismática Martha, Tricky foi o génio, o maestro que ia controlando os seus músicos, pedindo que subissem ou baixassem de tom, que o guitarrista prolongasse ou encurtasse os solos, que parassem de ou começassem a tocar, sendo curioso o facto de os músicos presentes em palco terem de estar sempre a olhar para ele, para ver o que se seguiria, o que ele faria do cimo de toda a sua genialidade, de uma genialidade ímpar no seio da música, de uma forma de estar em palco que, mesmo não tendo qualquer tipo de interacção com o público, connosco, nós que estamos do outro lado, que nos deslocámos à excelente sala Lisboa ao Vivo numa noite de imensa chuva, nós sentimos e vibrámos como se ele estivesse constantemente a comunicar connosco, a sussurrar-nos ao ouvido o que queríamos ouvir, com a sua forma de canção e de cantar que nos enche a alma, proporcionando uma noite inesquecível, à qual faltou somente, um correcto comportamento por parte do público.