26/10/14

Scott Walker and Sunn O)))... Soused

Editado pela conceituada 4AD, Scott Walker com a colaboração do duo Sunn O))), traz-nos este magnífico "Soused", um disco que tem tanto de estranho como de belo.
A sua voz de barítono, aliada à sonoridade proporcionada por Greg Anderson e Stephen O'Malley do duo Sunn O))), que por sua vez se aliam ao guitarrista Tos Nieuwenhizen, e ainda ao teclista Peter Walsh, que normalmente acompanha Walker, criam uma atmosfera musical quase indescritível, pesada e densa.
Se existem discos nos quais a base instrumental é importante pelo ritmo criado, neste "Soused" essa base funciona como um complemento à voz de Walker, que ao narrar mais do que cantar, funciona como um complemento a uma estrutura musical completamente ausente de ritmo, mas repleta de sonoridades e pequenos pormenores, que abrilhantam um música complexa e de uma audição que não é propriamente fácil.
Uma panóplia de sons, ruídos, guitarras distorcidas com uma sonoridade metálica, uma bateria que irrompe de vez em quando sem ser na sua forma tradicional, um sino, um grito aqui e ali, teclas que surgem esporadicamente, sintetizadores, tudo de forma caótica mas em simbiose perfeita com a voz de Walker, que quando começamos a escutar soa estranha, mas apesar disso prende-nos, e este é um daqueles trabalhos que começamos a ouvir e muito dificilmente conseguimos parar de o fazer até que o disco termine, e quando isso acontece, parece que o faz de forma abrupta.
A pergunta que pode ficar no ar é se será que termina mesmo de forma abrupta ou será que o prazer da audição nos faz pensar assim?

01 - Brando
02 - Herod 2014
03 - Bull
04 - Fetish
05 - Lullaby

Nota - 8.5 / 10

23/10/14

Ao vivo... Conor Oberst

Data - 22 de Agosto de 2014
Local - Praia do Taboão - Paredes de Coura
Notas - "Não sei como, já toquei 50 vezes em todo os países da Europa e nunca cá tinha vindo". Estas foram algumas das palavras de Conor Oberst na sua estreia em Portugal.
Por incrível que pareça, este músico nascido em Omaha, nos Estados Unidos no dia 15 de Fevereiro de 1980, é detentor de uma discografia imensa nos vários projectos em que participa, ou participou.
Commander Venus, Desaparecidos, Monsters of Folk, Park Ave., The Faint e, ainda os Bright Eyes formados em 1995 e que lançaram o seu primeiro disco "Letting Off The Happiness" em 1998.
Desde então, a carreira de Oberst incidiu, basicamente, nos Bright Eyes, editando uma dúzia de discos, tendo praticamente todos eles obtido boa aceitação por parte do público americano e europeu, exceptuando Portugal, e talvez tenha sido esse o motivo para nunca terem passado por cá.
Finalmente este ano, ao fim de muitos anos de carreira, Conor Oberst passou por Paredes de Coura. Fazendo-se acompanhar pelos Dawes, banda que momentos antes tinha actuado em nome próprio no palco secundário, Oberst esforçou-se e deu um bom concerto para uma escassa plateia, que não conseguiu empolgar, apesar da empatia criada entre o ele e o público.
Foi pena, e foi com notória melancolia que Conor Oberst se despediu da banda que o acompanhou neste concerto pois, segundo disse, este seria o último com os Dawes nesta tournée, pois o grupo liderado por Taylor Godsmith regressaria à Califórnia no dia seguinte; Oberst afirmou que "é como ficar sem o braço direito e o esquerdo ao mesmo tempo".
No final do concerto, ao despedir-se do público, o músico de Omaha que editou este ano o excelente disco "Upside Down Mountain" garantiu querer "voltar muito em breve".
Espera-se que sim e que, desta vez, consiga ter o público rendido, pois é um músico de grande nível.

19/10/14

Perfume Genius... Too Bright

"Too Bright" é o terceiro disco de Perfume Genius (Mike Hadreas), e de certo modo marca uma ruptura com os trabalhos editados anteriormente.
Se em "Learning" (2010) e "Put Your Back N2 (2012), a sua música era extremamente fechada, virada para dentro e centrada em si mesmo, com uma estrutura intima, belíssima, assente em voz e piano, neste disco isso não é tão evidente, apesar de estarmos, novamente, perante uma obra introspectiva.
Se em "I Decline", "Too Bright, ou mesmo "All Along", ainda são notórias algumas semelhanças com os discos anteriores apesar de alguns pormenores de orquestra, nos restantes temas isso não acontece, recorrendo Hadreas a diversas experiências sonoras, como por exemplo em "Grid", "My Body", ou  ainda em "I'm a Mother", onde, através de devaneios vocais, são evidentes as influências que este jovem músico tem, de uma das divas da música independente avant-garde, Diamanda Galás.
Com piano, sintetizadores, voz e orquestra, e com a colaboração do Portishead Adrian Utley e ainda de John Parish, colaborador habituar de PJ Harvey, Perfume Genius apresenta-nos um disco de grande nível, menos intimo, com música menos calma do que aquela a que nos habituou, mas, apesar disso, toda a sua ternura e sensualidade musical estão lá, tanto em temas como "Queen" ou "Fool" com partes musicais a "dois tempos", ou ainda "Longpig" e "My Body" à base de sintetizadores e experiências sonoras, não podendo, de modo algum, ficarmos alheios à beleza de "Don't Le Them In" com uma harpa verdadeiramente deliciosa, ou  "All Along", o fabuloso tema que encerra aquele que será, seguramente, um dos melhores discos deste ano.

01 - I Decline
02 - Queen
03 - Fool
04 - No Good
05 - My Body
06 - Don't Let Them In
07 - Grid
08 - Longpig
09 - I'm a Mothger
10 - Too Bright
11 - All Along

Nota - 9/10

16/10/14

Ao vivo... bEEdEEgEE

Data - 15 de Outubro de 2014
Local - Galeria Zé dos Bois
Notas - Somente cerca de 40 pessoas marcaram presença na noite de ontem, na Galeria Zé dos Bois, para assistir ao concerto de bEEdEEgEE (Brian DeGraw), membro dos Gang Gang Dance. DeGraw proporcionou um concerto de pouco mais de uma hora e, sendo certo que não desiludiu, também se pode afirmar que não conseguiu empolgar uma plateia bastante despida e algo fria. Apesar da sua música ser propícia à dança, e apesar de ser expectável que o aquário se pudesse transformar numa pista de dança, isso não aconteceu, e nem o som de excelente nível conseguiu vencer a apatia de muitos dos presentes. Não sendo um mau concerto, esteve muito longe de ser excelente, ficando a vontade de descobrir mais da obra deste músico que editou no ano passado, para a conceituada 4AD, o trabalho "Sum/One".
Na primeira parte actuou Jejuno (Sara Rafael), com um estilo musical electrónico, minimalista e com laivos de psicadelismo caótico. Apesar de ter estado em palco cerca de 40 minutos, acabou por se tornar cansativo.