11/02/13

Biffy Clyro... Opposites

Os primeiros acordes que ouvimos neste mais recente disco dos Biffy Clyro, são suaves, umas teclas harmoniosas e a característica voz de Simon Neil, embalam-nos, até que, aos dois minutos, começamos  a ouvir uns sons de guitarras que, de forma subtil, vão subindo de intensidade, é então a partir desse momentos que sentimos o verdadeiro espírito, poder e força, da música deste trio escocês que, ao seu sexto disco de estúdio confirma a maturidade atingida em 2009, com a edição de “Only Revolutions”.
Desde então. o grupo tem feito imensos concertos e participado em vários festivais, criando a ideia de ser uma banda com grande potencial ao vivo. Arrisco mesmo a afirmar que podemos estar perante uma das melhores bandas da actualidade em espectáculos ao vivo, e, ainda por cima, a música do grupo presta-se a isso, com bons ritmos e boas guitarras que, mesmo sem fazerem aqueles solos desgarrados e longos, dão um ritmo de grande intensidade e agressividade à música do grupo.
Este “Opposites” é um bom exemplo disso. Apesar de ser um CD duplo, é um disco que não satura, um disco completo e que nos satisfaz, da primeira à última música.
Se o início é feito com os tais acordes calmos e suaves, já o restante do disco é feito de grandes ritmos, alguns contra-ritmos, e com algumas baladas pelo meio. Se “Opposites”, “Trumper or Trap” e “The Thaw” se situam dentro dos parâmetros das chamadas baladas tradicionais dos grupos de Rock, já “The Tog” e “Skylight” são diferentes, pois são músicas cuja estrutura assenta essencialmente na voz de Simon Neil e numa sonoridade mais melódica, por vezes mais próxima de ambiências sonoras do que musicais (principalmente em “The Tog”), mas com pormenores muito interessantes, com algumas variações de intensidade musical que nunca chegam a ser variações rítmicas, proporcionando momentos muito agradáveis.
Para alem destas baladas que, como são poucas,  tornam-se mais fáceis de destacar, os outros temas que fazem parte deste disco duplo são, todos eles, cheio de garra, energia e força, e, apesar de ser extremamente difícil  destacar um tema deste “Opposites”, não posso deixar de mencionar, por exemplo, “Biblical” , “Different People”, “Black Chandeller”, “Little Hospiltals”, e “Modern Magic Formula”, que são temas que podem funcionar muito bem ao vivo, pois já em disco transmitem imensa energia, com uma construção simultaneamente melódica e agressiva, uma voz bem colocada e terna que serve de contrabalanço à agressividade transmitida pela parte musical da banda, agressividade essa que também é, diga-se “amaciada”, por pormenores orquestrais em fundo musical.
Os Biffy Clyro formaram-se em 1995, em Glasgow na Escócia. Este trio, composto por Ben Johnston (bateria), Simon Neil (voz e guitarra) James Johnston (baixo), tem mantido ao longo dos anos alguma regularidade em termos de edições discográficas, tendo sido editado o primeiro disco no ano de 2002. Na altura “Blackened Sky”,  foi um fracasso em termos comerciais e mal recebido pela critica musical, mas desde então o grupo tem evoluído e com este “Opposites” atinge e confirma a maturidade musical, que já tinha ficado evidenciada em “Only Revolutions”, lançado em 2009.
É devido a esta evolução do grupo e à energia que é transmitida nos discos, que repito o que já mencionei antes: estamos perante uma das melhores bandas ao vivo.
Biffy Clyro têm concerto agendado para o Optimus Alive.

Disco 1

01 - Stingin' Belle
02 - Sounds Like Balloons
03 - Biblical
04 - The Joke's on Us
05 - Black Chandelier
06 - A Girl and His Cat
07 - Opposite
08 - The Frog
09 - Little Hospitals
10 - The Thaw

Disco 2

01 - Different People
02 - Modern Magic Formula
03 - Spanish Radio
04 - Victory Over The Sun
05 - Pocket
06 - Trumpet Or Tap
07 - Skylight
08 - Accident Without Emergecy
09 - Woo Woo
10 - Pictture a Knife Fight

Nota - 7.8 / 10

05/02/13

Nick Cave & The Bad Seeds... Push The Sky Away


Desde “Dig, Lazarus, Dig!!!", editado em 2008, que Nick Cave não lançava um disco de originais com os The Bad Seeds.
Durante este hiato, Nick Cave Nick Cave participou no projecto Grinderman, com Warren Ellis, Martyn Casey e James Sclavunus, que editaram dois discos, “Grinderman” em 2007 e “Grinderman 2” em 2010. Para além do argumento do filme "Lawless", estreado em 2012, Nick Cave fez ainda a respectiva banda sonora.
“Push The Sky Away” assinala o regresso de Nick Cave & The Bad Seeds às edições discográficas, num registo de bom nível, repleto de canções calmas e agradáveis.
Se para muitos fans do músico australiano, este disco pode não ser dos melhores nem daqueles de maior criatividade, face à ausência daquele estilo musical a que nos habituou em que a agressividade e o tipo de construção musical assentam numa base rítmica que em certos momentos é superada por sons extraídos dos instrumentos musicais, quase de uma forma desconexa, este “Push The Sky Away” é um bom disco, que não cansa e ouve-se com muito agrado, da primeira à última música.
Se, por exemplo, “We No Who U R”, “Wide Lovely Eyes” e “Mermaids”, são baladas melódicas e quase ternas, outros temas há em que aquele estilo mais rock a que Cave nos habituou, está bem presente, como por exemplo em “Jubilee Street” que começa de uma forma calma mas termina com pequenos devaneios musicais, mantendo sempre uma base rítmica próxima da balada.
“We Real Cool” e “Finishing Jubilee Street” são outros temas interessantes, mas o momento alto surge na penúltima música, “Higgs Boson Blues”, na minha opinião, a melhor deste disco, uma canção longa, com mais de 7 minutos e na qual surge a forma de cantar característica e fascinante de Nick Cave.
Pode-se gostar mais da vertente rock e “barulhenta” de Nick Cave, mas também se gosta desta faceta mais calma e melódica e destas canções bonitas, mas tenho sérias duvidas que funcionem bem em concertos ao vivo, no âmbito de um festival.
Nick Cave tem concerto agendado para o Primavera Sound, no Porto.

01 – We No Who U R
02 – Wide Lovely Eyes
03 – Water’s Edge
04 – Jubilee Street
05 – Mermaids
06 – We Real Cool
07 – Finishing Jubilee Street
08 – Higgs Boson Blues
09 – Push The Sky Away

Nota 8.0/10

04/02/13

My Bloody Valentine... M B V


Sons distorcidos, vozes abafadas por vezes imperceptíveis, guitarras poderosas e saturadas, alguns solos, um autêntico caos ruidoso e sonoro.
Estes são os ingredientes que compõem "M B V", o disco que, de uma forma surpreendente, foi lançado esta semana pelos My Bloody Valentine, banda de culto que se formou em Dublin em 1984.
Liderados pelo guitarrista Kevin Shields, editaram o primeiro disco em 1985, o EP “This Is Your Bloody Valentine”, sem grande sucesso. No final de 1987, o vocalista Dave Conway abandona o grupo, sendo substituído por Bilinda Butcher, na voz e guitarra. É após esta alteração que a música do grupo começa a ter a sua própria identidade e sonoridade e em 1988, editam o muito festejado e aclamado “Isn’t Anything”, que obteve grande sucesso junto da crítica britânica e surpreendeu o mundo musical da altura, graças a um estilo muito próprio, aliado a uma presença em palco no mínimo estranha, já que os músicos actuavam com os olhos fixos no chão, sem encarar o público, daí surgindo a definição de “Shoegaze” para o seu estilo musical.
Em 1991 é editado o mítico – por muita gente considerado um dos melhores discos da história da música – “Loveless”, um disco soberbo que ainda hoje faz sentido, e que catapultou o grupo para um patamar muito elevado, apesar de ser uma música ruidosa e complexa, mas de grande qualidade e genialidade.
Após a edição deste disco, o grupo esteve inactivo durante muitos e muitos anos, e, vinte e dois anos depois, quase que de um dia para o outro, lançam um novo disco, apanhando de surpresa toda a imprensa musical e até os próprios fans, que há já muito tempo ansiavam por algo novo, mas sem grandes esperanças, apesar dos rumores que iam surgindo pela imprensa.
Neste início de Fevereiro aí está, o novo disco dos My Bloody Valentine, intitulado somente “M B V”, e que sucede a “Loveless” de 1991.
A sonoridade desse mítico disco, mantém-se neste novo trabalho, não só na parte mais ruidosa, como também na parte mais melódica, este M B V, acaba por dar uma certa continuidade à obra do grupo. Poder-se-ia afirmar estarmos perante "mais do mesmo"' não fosse a criatividade e o talento destes músicos, que continuam a ter a capacidade de surpreender pela positiva, e aquilo que podia parecer uma continuidade de Loveless – o tal mais do mesmo - não é, e não deixa de ser curioso que, à medida que vamos ouvindo o disco, apodera-se de nós a sensação de estarmos perante algo novo, tal a genialidade presente, que faz com que por vezes a música do grupo pareça estranha e requer mais do que uma simples audição.
Ao todo, este “M B V” traz-nos nove temas, todos eles repletos de guitarras em desgarradas permanentes, pequenos solos, temas caóticos e ruidosos, distorções, tudo o que se possa imaginar num cenário de caos, como se a música estivesse a ser interpretada de uma forma anárquica, mas, é então que a voz de Bilinda Butcher nos traz de volta à realidade, apesar de em alguns temas surgir abafada, mas isso faz com tenhamos a necessidade de ir à procura da paz que irradia dessa voz doce, terna e meiga, com um efeito “balsâmico”.
Se, a título de exemplo, em temas como “She Found Now”, “Nothing Is” ou “Wonder 2”, sentimos o efeito caótico da música do grupo, já em “Only Tomorrow” ou “Is This And Yes”, sentimos esse bálsamo, e aí sim, entendemos o tudo o que possa ser escrito sobre este disco e sobre os My Bloody Valentine.
Este pode não vir a ser considerado um dos melhores discos do ano (o que duvido), mas vai ser, seguramente, considerado o acontecimento do ano.
Um disco a ouvir em “repeat”, muitas e muitas vezes, pois a boa música é algo de que se vai gostando cada vez mais, à medida que se vai ouvindo e “entranhando” em nós, de forma viciante.
Este é um desses discos.

01 – She Found Now
02 – Only Tomorrow
03 – Who Sees You
04 – Is This And Yes
05 – If I Am
06 – New You
07 – In Another Way
08 – Nothing Is
09 – Wonder 2

Nota – 9/10

03/02/13

Grouper... The Man Who Died In His Boat

Grouper, é um projecto de Liz Harris, jovem oriunda de Portland, que desde 2003 - em nome próprio, em colaboração com outros projectos ou como Grouper - tem tido uma carreira regular, não só em termos de edições discográficas, como também nos níveis qualitativos dessas mesmas edições.
Todos os discos editados foram bem recebidos pela crítica e, graças a isso, Liz Harris / Grouper, conseguiram criar um grupo de fans, que pode não ser muito numeroso mas é, seguramente, extremamente devoto e seguidor da sua carreira.
Este "The Man Who Died In His Boat", é a prova da coerência e maturidade de Harris que, passados sete discos desde a edição de "Way Their Crapt" em 2005, continua a inovar e a apresentar um som muito característico, que tão depressa vai do instrumental suave e estranho, a um ambiente com sonoridades ruidosas e experimentais, ou ainda a um estilo doce e calmo, graças a uma voz meiga que, em certos momentos, contrasta com uma sonoridade mais ruidosa da parte instumental, contraste esse que não choca, e até acaba por funcionar de uma forma muito agradável.
Este é um daqueles discos do qual não se gosta à primeira, mas também não se detesta. Dá-se uma segunda oportunidade, e essa segunda oportunidade acaba por ser fascinante e viciante num disco que reune todas as condições para poder vir a ser considerado um dos grandes trabalhos de 2013, apesar de o ano mal ter começado.

01 - 6
02 - Vital
03 - Clouds In Places
04 - Beig Her Shadow
05 - Cover The Long Way
06 - Difference (Vocals)
07 - Vanishing Point
08 - The Man Who Died In His Boat
09 - Towers
10 - STS
11 - Living Room

Nota - 8.5