Data - 06 de Outubro de 2014
Local - Coliseu dos Recreios
Notas - Morrissey apareceu, e durante cerca de uma hora e trinta minutos saciou a vontade e o desejo do público que praticamente encheu o Coliseu dos Recreios
Apesar de ter deixado de fora alguns dos seus grandes sucessos - outra coisa não seria de esperar de alguém como Morrissey, músico detentor de uma discografia de grande nível quer a solo quer com os The Smiths, e também de um feitio um pouco especial - o concerto esteve sempre em bom nível.
Com início marcado para as 21 horas, eis que o evento começa com uma projecção de várias imagens e clips musicais que foram desde os Ramones a Charles Aznavour, passando pelos New York Dolls, banda que sempre foi uma referência para Moz.
Esta sessão "cinematográfica" durou cerca de 30 minutos, começando a criar alguma ansiedade no público sobre se iria ou não haver concerto, uma vez que com Morrissey as coisas nem sempre correm conforme o previsto, ou desejável.
Desejável era poder ouvir alguns temas dos Smiths, e houve, logo a abrir com "The Queen is Dead" enquanto eram projectadas no palco duas imagens da rainha de Inglaterra com o dedo do meio esticado. E que boa forma de agarrar o público ao dar início à noite com um dos clássicos da mítica banda de Manchester.
Seguiram-se vários temas de discos da carreira a solo de Morrissey, não podendo deixar de assinalar que de um dos seus mais conhecidos álbuns "You Are The Quarry" de 2004, apenas tenha sido tocado o tema "First of The Gang To Die", que encerrou o encore e o concerto, mas mesmo este tema foi completamente despido de toda a sua energia, sendo apresentado numa versão mais acústica e que não funcionou tão bem como poderia funcionar, mas, mais uma vez, com Morrissey, as coisas são como ele quer, e ele quis, basicamente, fazer a divulgação do seu mais recente disco "World Peace Is None Of Your Business" de 2014, do qual tocou oito temas, "Earth Is The Lonelieste Planet", "Istambul", "Neal Cassady Drops Dead", "The Bullfighter Dies", I'm Not a Man, "Kiss Me a Lot", "One of Our Own" e "World Peace IsNone of Your Business".
Para além destes temas, tocou ainda alguns de "Years of Refusal" de 2009, "Vauxhall and I" de 1994 e "Your Arsenal" de 1992.
Quanto a Smiths, "The Queen is Dead", "Hand In Glove", "Asleep" e a incontornável "Meat is Murder", durante a qual foram projectadas em palco imagens verdadeiramente impressionantes da forma como os animais são tratados, uma luta antiga de Morrissey, e, verdade seja dita, foi impressionante, funcionando como um murro no estômago que fez com que ficássemos siderados, impávidos e serenos, a assistir a uma verdadeira barbárie. Repito, impressionante e marcante.
Em jeito de resumo:
- A voz de Morrissey continua soberba e muito bem tratada.
- Uma excelente banda a acompanhá-lo.
- O alinhamento, apesar de não ser best of, foi coerente, sendo evidente a postura mais calma de Moz.
- Meat is Murder, seguramente, o momento marcante da noite. Pela brutalidade das imagens e pela força da canção, tenho muitas dúvidas que alguém conseguisse ingerir um prato de carne após o concerto. Arrasador e brutal, pela brutalidade das imagens.
- Morrissey provocador: o primeiro agradecimento surgiu em castelhano. As T-Shirts da banda, onde se podia ler "Fuck Harvest" em jeito de homenagem ao seu anterior editor discográfico, com quem se incompatibilizou recentemente.
- Morrissey de convicções e lutador, ao insistir na sua guerra antiga contra os maus tratos aos animais e as cadeias de Fast Food.
- Morrissey sedutor e igual a ele próprio: dá tudo o que tem, não fala muito, mas isso também não é importante.
O importante é que ele apareceu e deu um grande concerto, um daqueles que perdurará na memória de quem teve a oportunidade de o ver.
Seria bom que voltasse, mas com Morrissey, as coisas nunca são como queremos; são como ele quer.
É a sua imagem, a sua mística, e isso faz dele um dos mais fantásticos e idolatrados músicos.