20/07/14

James - La Petite Mort


Formados em 1982 em Manchester, os James lançaram o primeiro disco, "Slutter", em 1986. Trinta e dois anos após a sua formação e vinte e oito após o primeiro disco, o grupo liderado pelo carismático Tim Booth continua em excelente forma e, por incrível que pareça, a surpreender.
"La Petite Mort", é um disco simultaneamente estranho e delicioso. Escrito após a morte da mãe de Tim Booth e do seu melhor amigo é surpreendente que Booth não tenha caído na tentação de nos apresentar um disco melancólico e introspectivo, como por exemplo os Coldplay fizeram com o seu mais recente "Ghost Stories". Enquanto Chris Martin se fechou no seu mundo, interiorizando todas as mágoas inerentes a uma separação, Tim Booth optou por nos apresentar e mostrar a sua capacidade de olhar mais longe, não ficando refém de situações negativas, e é aí que reside a grande virtude deste disco, o de olhar mais longe, o não ficar preso no tempo presente, o poder ser um disco de expiação do mau-estar actual, ser um disco repleto do desejo, da certeza que, no horizonte, a curto ou médio prazo, melhores dias virão.
Se o nome do disco é um eufemismo referente ao momento pós-orgásmico, através de uma expressão tipicamente francesa que reflecte esse momento, a capa do disco apresenta uma pintura referente à tradição mexicana, do "Dia de Los Muertos", sendo evidentes as cores fortes, a beleza e ofertas tradicionais, como que querendo dizer com todo este processo, desde o nome do disco à sua capa, que, após a concepção e após a passagem pela vida que, de forma natural, culminará com a morte, há algo mais, e que no "Dia de Los Muertos" podemos celebrar sem mágoas, não em tom de júbilo mas com um olhar no horizonte, olhando o futuro, e isso é salutar… é bom e faz-nos sentir bem, como também nos faz sentir muito bem o facto de, passados tantos e tantos anos, continuarmos a ter um prazer imenso em ouvir um disco de uma banda como os James, que ao fim de trinta e dois anos continuam com a capacidade de nos surpreender, e ainda por cima com um dos melhores discos da sua já longa carreira.
Neste "La Petite Mort", Tim Booth na voz, Jim Glennie no baixo, Larry Gott na guitarra, Saul Davies na guitarra e violino, Mark Hunter nas teclas, David Baynton-Power na bateria e Andy Diagram no trompete, apresentam-nos um conjunto de dez canções soberbas, escritas entre Manchester, Atenas, Escócia e Lisboa, um conjunto de canções através das quais celebram o percurso da vida e, ao ouvi-lo da primeira à última música, isso está lá tudo, conseguimos senti-lo de forma indelével, desde o prazer da concepção e do nascer em "Walk Like You", ao percurso de uma vida feliz retratado em temas como "Curse Curse" ou "Interrogation", passando por "Moving On", tema lindíssimo, forte e intenso, dedicado à sua mãe, e culminando com os chamados momentos menos bons que a vida tem, a morte retratada em "Bitter Virtue, ou "Quicken The Dead", ou ainda o belíssimo tema "All I'm Saying", em que, no final da música e a terminar o disco, ouvimos "I'm missing you and all the worlds you opened up to view. I love you. See you next time".
Produzido por Max Dingel, que também já produziu os Muse, White Lies ou os The Killers, este é um disco obrigatório e um dos candidatos ao melhor disco do corrente ano.

01 - Walk Like You
02 - Curse Curse
03 - Moving On
04 - Gone Baby Gone
05 - Frozen Britain
06 - Interrogation
07 - Bitter Virtue
08 - All in My Mind
09 - Quicken The Dead
10 - All I'm Saying

Nota - 9/10

14/07/14

Ao Vivo... Festival Optimus Alive 2014

Data - 11 de Julho de 2014
Local - Passeio Marítimo de Algés
Notas - Segundo dia da edição de 2014 do Festival Optimus Alive. Como era previsível, este dia teve muito menos público do que o anterior, e à hora que os The Last International entraram em palco, ainda sob o intenso sol de final de tarde e do calor abrasador se faziam sentir, o aspecto era próximo de desolador. Pouco público e, para além disso, mais preocupado em colocar a conversa em dia e tirar umas selfies. Um público apático, e nem a interacção do grupo, do qual qual fazem parte dois descendentes lusos, nem o incentivo ao protesto ao som de uma "Grândola, Vila Morena" cantada a Cappella e da declaração do guitarrista  Edgey Pires "vamos protestar, fazer barulho contra esse Passos Coelho", foram suficientes para empolgar os espectadores. No entanto, ficou a ideia que numa sala mais pequena, a música do grupo deve resultar, agora num espaço de grande dimensão e inserido num festival isso não acontece, tendo sido visível o crescendo do desinteresse do público.
Depois do inconsequente concerto dos The Last Internationale, num dos outros palcos actuava um dos grupos mais aguardados do dia, os norte-americanos Parquet Courts que apresentaram alguns temas de "Light Up Gold" de 2012 e "Sunbathing Animal" de 2014, os dois únicos discos editados pelo grupo e que foram muito bem recebidos pela crítica. Apesar dessa boa receptividade, foi evidente o desconhecimento de muitos dos espectadores em relação à música de Andrew Savage, Austin Brown, Max Savage e Sean Yeaton.
Exceptuando os riffs de guitarra, fortes e bem executados, o grupo que momentaneamente nos trouxe à memória o som dos "Pavement", por exemplo, não conseguiu cativar o público, sendo este um dos contras dos festivais, ou seja, o facto de, quem organiza, ter um pouco a exagerada preocupação de anunciar que num determinado evento estão presentes mais de 100 ou 150 bandas, essa obsessão torna-se improcedente e origina que, por vezes, bons grupos que poderão proporcionar excelentes concertos, acabem por se perder num emaranhado de bandas, e muitas vezes acontece que quem está a assistir a determinado concerto, não conhece uma única música desse grupo e, das duas uma: ou o grupo tem a força de os poder, digamos, converter, ou o desinteresse acaba por sobressair, e foi exactamente isso que aconteceu por parte dos espectadores, e quem está em palco apercebe-se disso.
Apesar destes condicionantes, foi um bom concerto, competente, e ficou a ideia que numa sala de média dimensão, por exemplo Espaço TMN ou Aula Magna, teria sido fabuloso. Resta aguardar.
Depois da actuação dos Parquet Courts, era tempo de rumar até ao palco principal, onde já estavam a actuar os também norte-americanos MGMT, detentores de dois excelentes discos "Oracular Spectacular" de 2008 e "Congratulations" de 2010, e ainda do menos conseguido "MGMT" de 2013. Apesar de terem mais público do que os seus conterrâneos Parquet Courts, também oriundos da cidade de Brooklyn, os MGMT não conseguiram agarrar o público, mesmo com um alinhamento em jeito Best Of que percorreu a obra do grupo. Apesar disso, o desinteresse do público foi crescendo e, para o final, era evidente que muita gente estava lá para ver os senhores que se seguiam: The Black Keys.
Juntos há treze anos, Dan Auerbach e Patrick Carney não desiludiram. Para quem os viu há algum tempo no Pavilhão Atlântico, este concerto ficou aquém das expectativas; para quem nunca os tinha visto, como é o caso, foi muito bom.
Enquanto Carney demonstra ser um baterista de excelente nível, Auerbach mostra-se com um dos melhores guitarristas rock da actualidade, com nítidas influências de Jimmy Page. Escusado será dizer que o alinhamento do concerto percorreu grande parte da obra do duo, incidindo principalmente no "El Camino" de 2011, e será sintomático o facto que só perto de metade do concerto, tenham sido tocados temas do novo disco editado este ano "Turn Blue", cujo sucesso ficou longe do esperado.
De forma inteligente, o duo soube escolher a sequência perfeita para as músicas, de modo a não existirem quebras de reacção por parte do público, nem as normais debandadas em festivais depois de se ouvirem as músicas mais conhecidas. Essa foi a razão para, por exemplo, "Lonely Boy", ter sido tocada perto do final, a anteceder o encore, que surgiu um pouco por surgir, já que após este tema ocorreu a tal debandada.
Sem serem os vencedores da noite, os cabeça de cartaz The Black Keys, num dia com muito menos público do que o anterior, deram um excelente concerto e o único ponto negativo que se pode apresentar ao duo, foram as pausas demasiado longas entre algumas canções que, como é natural, provocaram quebras de ritmo junto do público, naturalmente cansado.
Se os The Last Internationale foram inconsequentes, os Parquet Courts competentes mas o público algo absorto, os MGMT sem nada de empolgante, os The Black Keys com quebras de ritmo, os Buraka Som Sistema podem ser considerados como os vencedores da noite.
Durante mais de uma hora, perante uma plateia algo despida após The Black Keys, o projecto de Blaya, Conductor e Kalaf conseguiu empolgar o público, com grande ritmo do primeiro ao último momento, fazendo com que o Passeio Marítimo de Algés se tornasse numa gigante pista de dança, apesar do cansaço, e aconteceu o "dois em um". Se por um lado, em palco, estava um grupo disposto a proporcionar uma excelente noite com alguns clássicos da banda intervalados com temas do mais recente disco, nem o facto de o volume estar um pouco mais baixo do que era aconselhado impediu que a comunidade africana dançasse daquele modo que só eles sabem e isso foi outro espectáculo dentro do próprio concerto, criando-se espaços em que as pessoas dançavam, brincavam e eram felizes, ao som dos Buraka Som Sistema. Grande concerto.