15/07/14

Ao Vivo... Festival Optimus Alive 2014

Data - 12 de Julho de 2014
Local - Passeio Marítimo de Algés
Notas - O último dia da edição deste ano do Optimus Alive tinha como cabeça de cartaz um nome muito discutível: os britânicos The Libertines, grupo de enorme sucesso em terras de sua majestade mas que, em Portugal são pouco conhecidos, sendo-o, aliás, por questões extra-musicais, como por exemplo drogas e problemas com autoridades, mas aqui o que interessa é a vertente musical. A expectativa para este concerto residida no facto de o grupo há já muitos anos não tocar ao vivo, para além de não terem qualquer trabalho novo desde a edição de "The Libertines" de 2004, álbum que sucedeu a "Up The Bracket", com que se estrearam em 2002.
Para dar início ao dia, num final de tarde quente a anteceder uma noite que ficou fresca, nada melhor do que um concerto de Cass McCombs, com o seu country-rock suave, muito americano, que nos transporta por esse imenso país. No palco secundário foram poucos os que marcaram presença, e muitos deles estavam apáticos, sentados ou mesmo deitados no espaço, talvez fruto do cansaço e do desgaste que estes festivais causam, ou então por desconhecimento da obra de McCombs. Não era o espaço ideal para o seu estilo intimista, mas este músico nascido em 1977 e que já conta com sete discos editados não desiludiu, demonstrando ter potencial para ir mais longe, mas para isso terá de se soltar da forte influência folk americana e aventurar-se um pouco pelos campos do rock, como faz muito bem Adam Granduciel, líder dos The War on Drugs, que seriam os próximos a entrar em palco.
Trazendo na bagagem "Lost in The Dream", já considerado unanimemente pela crítica como um dos melhores discos deste ano, Adam Granduciel e os seus The War on Drugs, deram aquele que foi um dos melhores concertos da edição deste ano do festival. Apesar de curto, foi perfeito, com boa qualidade sonora e uma excelente banda em palco, uma banda coesa com grandes influências de Bob Dylan e um cheirinho a E-Stree Band. "An Ocean Between The Waves", "Eyes To The Wind" ou "Burning" foram alguns dos temas que nos levaram "coast to coast" ao longo de uma viagem imaginária por terras do Tio Sam, pelas imensas auto-estradas e desertos americanos, ficando a faltar, por exemplo, "Lost In The Dream", entre muitas outras canções de um dos mais geniais músicos americanos da actualidade que, em cada disco e momento, tem a capacidade de nos surpreender.
A primeira grande surpresa da edição deste ano, surgiu com Ruban Nielson, mentor e líder dos neozelandeses Unknown Mortal Orchestra. Com um início verdadeiramente assustador, com um som péssimo, sem quaisquer graves e ainda por cima com o facto de "ter de se levar" com a sonoridade dos Bastille que actuavam no palco principal, chegou-se a temer o pior para este concerto. Mas não, a meio da segunda música os problemas de som foram resolvidos e, apesar de em certos momentos serem audíveis as sonoridades dos Bastille.
Riley Geares na bateria e Jake Portrait no baixo, acompanharam Ruban Nielson na guitarra naquilo que quase se pode considerar uma Jam Session. Quem conhece os dois discos editados pela banda e assistiu a esta actuação ficou, seguramente, estupefacto com o desempenho do grupo. Se em disco as canções surgem um pouco fechadas e limitadas, ao vivo a banda transcende-se completamente, improvisando e alongando imenso, com solos fabulosos por parte de Nielson e não deixou de ser curioso que quando começou a actuação do grupo, o aspecto do recinto fosse desolador, e com o decorrer da mesma, o público foi-se aproximando, enchendo por completo o espaço. Sem dúvida alguma, a maior surpresa do festival, e também um dos melhores concertos.
Ainda sob o efeito do excelente concerto proporcionado pelos Unknown Mortal Orchestra, no palco principal era chegada a vez dos Foster The People, grupo formado no ano de 2009 em Los Angels.
Com dois discos modestos na bagagem, "Torches" de 2011 e "Supermodel" de 2014, o grupo apresentou um concerto simples, com o seu pop muito certinho e dançável, repleto de influências de grupos como os Killers ou Coldplay. Excessivamente pop, dir-se-á, mas o certo é que foi um daqueles concertos que não ficará no ouvido, e daqui um par de meses já ninguém se lembrará do que viu. É a pequena diferença entre um bom e um mau concerto.
E, finalmente, para fechar a edição deste ano do Optimus Alive, a escolha podia ter sido melhor. Não se entende o motivo de o cabeça de lista deste último dia serem os "The Libertines", a não ser que exista por parte da organização um piscar de olho ao mercado britânico, o que fará algum sentido com vista à pretensa internacionalização do evento, internacionalização essa mais visível de ano para ano.
Quanto ao concerto dos The Libertines, foi fraco. O grupo liderado por Pete Doherty e Carl Barat não teve a capacidade de transportar para a plateia a força e energia dos seus discos, e isso notou-se, pois não conseguiram entusiasmar e prender o público, sendo visível que, à medida que iam tocando os temas dos dois álbuns editados, o público ia abandonando o recinto, e no final, a plateia estava muito, mesmo muito vazia, para quem era suposto ser um "cabeça de cartaz".
Má opção por parte da organização.