Segunda parte de uma entrevista ao Jorge Palma, após a edição do seu disco "Qualquer Coisa Pá Música", em 1979.
Perg. – Quais as influências que tens do Sérgio Godinho?
Resp. – Pessoais, são porreiras. Espirituais, são ainda mais porreiras. A primeira vez que o encontrei, foi em Paris. Foi num dia em que fui comprar tabaco a um café onde não era costume ir, e quando ia a sair do café deparei-me com ele e falamos. No dia seguinte estava a tocar no metro numa carruagem e o Sérgio entrou e a partir dessa altura ficámos grandes amigos. Quanto ao ponto de vista musical, acho que ele tem bastante talento, que é um valor muito válido para a música Portuguesa e como tal, tenho algumas influências dele. Na minha opinião, dentro da música Portuguesa ele é um deus
Perg. – Tu condicionas-te somente a um estilo musical?
Resp. - Não, o tipo de música que se toca depende do estado de espírito de uma pessoa. O Blue Grass é um estilo musical que fala de desastres, dramas, e que tem ritmo e por isso torna-se um bocado alegre. Por sua vez o Jazz e o Blues são do género mais triste. Como disse, acho que a música depende do estado de espírito.
Perg. – Qual o principal estilo de música que mais te influencia?
Resp. – Não há um estilo que se possa dizer principal. Já tive momentos em que era mais influenciado pelo Jazz, outras pelo Country e actualmente estou mais influenciado pelo chamado folclore. É por isso que agora penso fazer uma volta por Portugal, terra a terra. Em França convivi com todo o tipo de camadas sociais, o que não acontece cá em Portugal, talvez por as camadas estarem mais fechadas, entre barreiras, do que lá.
Perg. – Não há nada que te impeça de ir pelo país, por exemplo ao Norte, tradicionalmente mais fechado?
Resp. – No norte nunca experimentei, mas em Faro e Setúbal tive grande aceitação, o que já não aconteceu em Vila Real de S. António, pois os senhores de mais idade olhavam para mim com uma cara, como se estivessem com medo.
Perg. – Quando estás a compor, em que pensas?
Resp. – Quando estou a compor? Já passei por uma fase em que me preocupava com o que ia dizer, agora já não.
Perg. – Porquê?
Resp. – A malta é comodista, pois todos querem ter tratamento de rei, e por isso não quero criar compromissos de ficar em dúvida. A partir de certa altura da vida, quando se tem família, já não podemos dizer que fizemos alguma coisa mal, pois já está tudo organizado.
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