30/09/10

Entrevista... "De Fio a Pavio"

Terceira parte de uma entrevista feita no início dos anos 80, a um conjunto de jornalistas responsáveis pelo programa "De Fio a Pavio", da Rádio Renascença.
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Perg. - Mas haverá música portuguesa que seja suficiente para ocupar esse espaço, mas que seja de qualidade?
Resp. - (Miguel Lemos) - Depende. Música com raízes populares há muita, existe o levantamento dessa música e tem qualidade. Agora, se falarmos na que é comercializada pelas editoras, penso que não abrange essa qualidade pois tem objectivos comerciais.
(João Viegas Soares) - Actualmente não existe qualquer controle se essa lei é ou não cumprida. Há emissoras que passam muito pouca música portuguesa, e a SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) não recebe as listas das música que foram passadas na rádio durante um mês, por isso não existe controlo e, a partir daí, a eficácia da lei fica logo anulada. Se não houver um controlo, não me parece que essa lei tenha resultados práticos suficientes.
Perg. - Acham que na rádio deviam ser dadas mais oportunidades aos jovens?
Resp. - (Miguel Lemos) - Acho que se dão boas oportunidade, mas a rádio também não foge ao ao que costumamos chamar crise geral e que existe na sociedade portuguesa. Essa crise implica o desemprego e a questão do primeiro emprego para os jovens.
Perg. - Mas podem existir jovens com boas ideias para programas e que não tenham tido qualquer experiência anteriormente...
Resp. - (João Viegas Soares) - Pelo que conheço não tem surgido uma grande quantidade de oportunidade a novos valores. Nós somos jovens e somos alguns desses jovens que entraram para a rádio com pouca ou nenhuma experiência. Penso que "De Fio a Pavio" é uma prova de que os jovens têm alguma coisa a dizer.
Perg. - Mas porque razão a rádio não dá esse apoio?
Resp. - (Miguel Lemos) - Uma rádio que seja comercial vive da publicidade e dos ouvintes. As pessoas não podem surgir sem experiência, pois poderão fracassar. Penso que será essa a principal razão.
(João Viegas Soares) - Os interesses económicos sobrepõem-se ao dar novas oportunidades à juventude, o que é negativo.
(Miguel Lemos) - Acho que é negativo, mas essa falta não é tão grande como isso. A Rádio Comercial e a Rádio Renascença têm apostado em gente nova. Na Renascença tem-se apostado muito na juventude, mas mais no sector da informação.

FIM

29/09/10

Entrevista... "De Fio a Pavio"

Segunda parte de uma entrevista feita no início dos anos 80, a um conjunto de jornalistas responsáveis pelo programa "De Fio a Pavio", da Rádio Renascença.
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Perg. - Agora falem-me um pouco das linhas gerais das vossas entrevistas.
Resp. - (Miguel Lemos) - O entrevistado vai acompanhando todo o programa. Normalmente, temos uma pequena síntese noticiosa do dia e o entrevistado pronuncia-se sobre uma das principais questões em foco. Depois, ao longo do programa, procuramos ir abordando diversos temas da actualidade e, à medida que isso vai acontecendo, o entrevistado pronuncia-se sobre esses temas.
(Nuno Jonet) - Outra característica do programa, é que o entrevistado não fala durante meia hora mas sim um ou dois minutos sobre cada tema, e às vezes até fala menos tempo. Isto faz com que as pessoas não se cansem e não adormeçam ao som de uma voz. Depois, entre cada resposta, passamos uma pequena faixa musical.
Perg. - Esse género de entrevista talvez seja a primeira vez que acontece em Portugal, não?
Resp. - (Miguel Lemos) - Não direi que é a primeira vez, mas na época que corre, não existe. Usa-se muito em França e no Luxemburgo (RTL).
(João Viegas Soares) - Em Portugal o que se faz é tipo mesa redonda, com o entrevistado a ser bombardeado com perguntas durante uma hora. Neste programa, tentamos ser nós a dar a informação e o convidado a comentar o tema. Nas entrevistas, não vão ser sós os políticos a ser entrevistados, mas também pessoas ligadas à música, ao desporto, a tauromaquia, etc.
Perg. - Como jornalistas de um programa de rádio, como é que analisam a lei que vai obrigar as rádios a passarem 50% de música portuguesa?
Resp. - (João Viegas Soares) - Acho que mais do que obrigar a que exista esse espaço, se exija um mínimo de qualidade e existam estruturas para que essa qualidade exista. Essa lei vai obrigar a que se produza mais música e da melhor qualidade, para se ocupar esse espaço. Apesar de ser uma lei que considero insuficiente e incontrolável, acho que é positiva, e as leis surgem, não para criar situações novas mas em função das que já existem. Se foi preciso criar essa lei, é porque de facto estava a aparecer música portuguesa com qualidade para poder passar na rádio. É uma lei que surge para defender a música portuguesa e, na minha opinião, pode vir a ter efeitos positivos em relação à quantidade.
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28/09/10

Kele - The Boxer

"The Boxer" é o disco de estreia a solo de Kele Okereke, guitarrista e vocalista dos Bloc Party.
Aproveitando o hiato do grupo, desde o ano de 2009, Kele decidiu aventurar-se numa carreira a solo com este "The Boxer", disco produzido por Hudson Mohawke e que foi lançado recentemente.
Detentor de uma voz inconfundível, Kele, apresenta-nos um disco que não deslumbra mas também não desilude. Apesar da tentativa de um distanciamento da música dos Bloc Party, são inegáveis as semelhanças, quando mais não seja pelo facto de ser Kele Okereke o autor das músicas do grupo.
Este "The Boxer" é um disco com uma música fresca e despretensiosa, com alguns temas interessantes, mas que acaba por tornar-se enfadonho, um pouco devido ao uso excessivo de instrumentos numa onda synth-pop.
No conjunto dos dez temas que fazem parte do disco, destaco pela positiva "Everything You Wanted", um tema bem ritmado e muito forte, excelente para passar na rádio e desse modo fazer com que seja um trabalho bem sucedido, pelo menos comercialmente.

01 - Walk Tall
02 - Õn The Lam
03 - Tenderoni
04 - The Other Side
05 - Everything You Wanted
06 - The New Rules
07 - Unholy Thoughts
08 - Rise
09 - All The Things I Could
10 - Yesterday's Gone

Nota - 7/10

27/09/10

Entrevista... "De Fio a Pavio"

Primeira parte de uma entrevista feita no início dos anos 80, a um conjunto de jornalistas responsáveis pelo programa "De Fio a Pavio", da Rádio Renascença.

"De Fio a Pavio" é um dos muitos programas que preenchem parte da emissão da Rádio Renascença, aos domingos. Segundo um dos elementos deste programa, trata-se de um magazine de informação, o que se nota logo à primeira audição.
É um programa feito por jovens, cujas idades estão compreendidas entre os 19 e os 26 ano e, apesar de ser recente, já está a alcançar um certo sucesso junto dos ouvinte da Rádio Renascença.
O apresentador é o Rui Pego e da equipa deste programa fazem parte quatro jornalistas que se ocupam das entrevistas para as quais é convidado uma figura pública, que vai pronunciar-se sobre os mais diversos temas. Essa equipa de quatro jornalistas é composta pelo Carlos Ribas, Miguel Lemos, João Viegas Soares e Nuno Jonet.
Perg. - Em primeiro lugar, e devido à vossa idade, a pergunta que se impõe é se já tinham tido alguma experiência em termos radiofónicos?
Resp. - (Nuno Jonet) - Não muito. A minha experiência era em termos de informação, ao nível de noticiários. O Miguel e o Rui tiveram alguma experiência em Angola.
(Miguel Lemos) - Sim, eu e o Rui tivermos dois programas na emissora nacional de Angola, que foram o "Módulo K" e "A Voz do Estudante". Quanto ao João Soares, esta é a sua primeira experiência em termos de rádio.
Perg. - Quais os vossos objectivos ao fazerem o programa?
Resp. - (Miguel Lemos) - O nosso principal objectivo é informar, divulgar acontecimentos que dizem respeito às nossas vidas, como por exemplo política, espectáculos, etc.
(João Viegas Soares) - Nós fazemos um grande esforço no sentido de que a informação seja dada de uma maneira leve. Pensamos que, na rádio, a informação deve ser envolvida de aspectos que facilitem a sua apreensão e fazemos os possíveis por isso, no sentido que as notícias sejam comentadas e rodeadas de conversa com um convidado que temos semanalmente. A nossa informação é um tipo de informação leve e acessível, sem nos preocuparmos com discursos políticos.
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23/09/10

Arcade Fire - The Suburbs

"Funeral" (2004), "Neon Bible" (2007) e "The Suburbs" (2010).
Ao terceiro disco, à terceira obra-prima, os Arcade Fire trazem-nos dezasseis temas novos, que tornam "The Suburbs" um disco longo, sem ser fastidioso.
Por incrível que possa parecer, o grupo consegue manter um nível excelente e dessa forma confirmar as potencialidades evidenciadas em "Funeral" e mantidas em "Neon Bible", onde conseguem superar o síndrome do primeiro álbum.
"The Suburbs" acaba por ser a confirmação de que este grupo - oriundo de Montreal, Canadá - é, actualmente, um dos colectivos de maior criatividade na cena indie a nível mundial, apesar de nele ser evidente uma vertente mais comercial e menos conceptual, comparativamente com os anteriores trabalhos editados pelo grupo.
No dia 18 de Novembro de 2010, os Arcade Fire vão actuar no Pavilhão Atlântico em Lisboa, num concerto que será, seguramente, memorável, não só pelas excelente músicas que o grupo tem espalhadas pelos seus três trabalhos, mas também devido aos excelentes e divertidos concertos que a banda dá, transmitindo uma energia e uma alegria contagiantes.

01 - The Suburbs
02 - Ready To Start
03 - Modern Man
04 - Rococo
05 - Empty Room
06 - City With No Children
07 - Half Light I
08 - Half Light II (No Celebration)
09 - Suburban War
10 - Month Of May
11 - Wasted Hours
12 - Deep Blue
13 - We Used To Wait
14 - Sprawl I (Flatland)
15 - Sprawl II (Mountains BeyondMountains)
16 - The Suburbs

Nota - 9/10

22/09/10

Manic Street Preachers - Postcards From a Young Man

Apesar de já há algum tempo circular na internet, foi editado esta semana Postcards From a Young Man, disco que assinala o regresso dos Manic Street Preachers, que tivemos a oportunidade de ver na edição deste ano do Alive, onde deram um bom concerto.
Este é aquele tipo de disco que se pode intitular "Radio Friendly". Composto por doze excelentes temas, todos eles propícios à edição em formato single, para assim poderem passar nas rádios, pois como sabemos (pelo menos em Portugal), a grande maioria das rádios existentes limita-se a passar os temas que fazem parte do chamado "Lado A" do single, são rádios sem programas de autor que se limitam a passar aquilo que as editoras impõem, com excepçao para as rádios Radar e Europa (se bem que esta tem outra onda musical, mais vocacionada para o Jazz).
Com este Postcards From a Young Man, o grupo formado por James Dean Bradfield (voz e guitarra), Sean Moore (bateria) e Nicky Wire (baixo), dificilmente conseguirá superar o mítico The Holy Bible, ou mesmo o anterior trabalho do grupo Journal For a Plague Lovers, editado em 2009. É, no entanto e como já referi, um excelente trabalho com canções bem construídas e melódicas, sem devaneios, numa música acessível e de grande qualidade.
Um disco extremamente agradável, de um pop discreto, belo e subtil, cujo momento alto surge logo na terceira música Some Kind Of Nothingbess, com partes a fazer lembrar os espirituaus negros, numa melodia apoteótica que conta com a colaboraçao de Ian McCulloch dos Echo & The Bunnymen.
Seguramente um dos grandes discos do ano de 2010.

01 - (It's Not War) Just The End Of Love
02 - Postcards From a Young Man
03 - Some Kind Of Nothingness (Feat. Ian McCulloch)
04 - The Descent (Part 1 & 2)
05 - Hazelton Avenue
06 - Auto Intoxication
07 - Golden Platitudes
08 - I Think I've Found It
09 - A Billion Balconies Facing The Sun
10 - All We Make Is Entertainment
11 - The Future Has Been Here 4 Ever
12 - Don't Be Evil

Nota - 9/10

Setlist... Bruce Springsteen

Setlist do concerto de Bruce Springsteen, no Estádio de Alvalade, dia 01 de Maio de 1993.

- Darkness On The Edge Of Town
- Adam Raised a Cain
- This Hard Land
- Better Days
- Lucky Town
- 57 Channels
- Trapped
- Badlands
- Many Rivers To Cross
- My Hometown
- Leap Of Faith
- Man's Job
- Roll Of The Dice
- Downbound Train
- Because The Night
- Brilliant Disguise
- Human Touch
- The River
- Who'll Stop The Rain
- Souls Of The Departed
- Born In The USA
- Light Of The Day
- Hungry Heart
- Glory Days
- Born To Run
- My Beautiful Reward
- Working On The Highway
- Rockin' All Over The World
- Bobby Jean

21/09/10

Grinderman - Grinderman 2

Grinderman 2 marca o regresso dos Grinderman, projecto liderado pelo inconfundível Nick Cave e do qual fazem parte Martyn Casey no baixo, Warren Ellis na guitarra e violino, e Jim Sclavunus na bateria.
Três anos após a edição do primeiro trabalho do grupo, estamos perante um regresso extremamente salutar e interessante, apesar de previsível. Um disco marcado, à semelhança do anterior, pela forte influência de Nick Cave, músico de uma criatividade inconfundível, que tanto nos brinda com temas caóticos e desconexos, repletos de experimentalismos como se estivessemos numa Jam Session (Bellringer Blues ou When My Baby Comes), como nos traz canções extremamente melódicas dignas de qualquer compilação de Love Songs (Palaces Of Montezuma).
Estamos perante um excelente disco, estando ao nível do melhor que Nick Cave fez até hoje e, comparando com o anterior trabalho do grupo, pode-se afirmar que Grinderman 2 está ao mesmo nível, não desiludindo mas também não surpreendendo nem inovando. Poder-se-ia afirmar que é mais do mesmo, mas na música de Nick Cave as coisas nunca são o que parecem, pois é algo inconfundível e repleto de pequenos pormenores que, com o tempo, são detectados.
Nick Cave, na minha opinião é detentor de uma capacidade criativa e de improvisação muito acima da média, como todos os génios.

01 - Mickey Mouse And The Goodbye Man
02 - Worm Tamer
03 - Heathen Child
04 - When My Baby Comes
05 - What I Know
06 - Evil
07 - Kitchnette
08 - Palaces Of Montezuma
09 - Bellringer Blues

Nota - 9/10

17/09/10

Blog da semana

Toxicidades é o Blog da Semana no Cotonete.
Link no canto superior direito.

16/09/10

Interpol - Interpol

"O bom filho à casa torna".
Este ditado aplica-se aos Interpol que, cerca de seis anos após abandonarem a editora em que fizeram os melhores trabalhos, a Matador, regressam com este "Interpol". Liderados pelo carismático guitarrista e vocalista Paul Banks, trazem-nos um excelente disco, repleto de belas canções, densas, de uma densidade que só os Interpol conseguem transmitir, com uma voz igualmente densa e "escura", quase que tenebrosa, e uma guitarra em constantes divagações e solos discretos mas densos e intensos, que nos enebriam e arrepiam.
Apesar de, à partida, estar longe do nível do primeiro trabalho do grupo "Turn On The Bright Lights" datado de 2002, este "Interpol" é um excelente disco que, atrevo-me a incluir naquele género de disco que se aprende a gostar à medida que o vamos ouvindo.
Normalmente, esse tipo de disco, torna-se uma obra de arte porque, a arte aprecia-se, e quanto mais se aprecia, à medida que a vamos apreciando, gostamos cada vez mais.

01 - Success
02 - Memory Serves
03 - Summer Well
04 - Lights
05 - Barricade
06 - Always Malaise (The Man I Am)
07 - Safe Without
08 - Try It On
09 - All Of The Ways
10 - The Undoing

Nota - 8/10

01/09/10

Ao vivo... Super Bock Super Rock

Cartaz da edição do Festival Super Bock Super Rock de 2010, na Aldeia do Meco.