Data - 03 de Junho de 2012
Local - Parque da Bela Vista
Notas - Ultimo dia da 5ª edição do Festival Rock in Rio por terras lusas, e para o encerrar, nada melhor que um Boss, uma lenda viva da história do música: Bruce Springsteen, que regressa a Portugal dezanove anos depois do único concerto que deu por cá, no dia 01 de Maio de 1993, Estádio de Alvalade.
Para este dia de encerramento eram esperadas cerca de 80000 pessoas, mas à hora que os Kaiser Chiefs subiram ao palco principal estariam pouco mais de 30000 nessa zona, pois muitos aproveitaram os primeiros momentos do dia para vaguear um pouco pela auto-denominada cidade do rock, para estarem nas filhas dos sofás insufláveis, para fazerem cortes de cabelo idiotas, para esperarem horas nas filas dos carrosséis e desse modo matarem saudades da feira popular, e ainda para andarem pelo recinto em busca de lembranças que, quando da próxima arrumação de gavetas em casa, têm o seu destino traçado: o caixote do lixo ou, se seguirem os princípios ecológicos, para reciclagem.
Mas, vamos ao que interessa: a música e, pelo menos neste aspecto o dia prometia, com uns divertidos Kaiser Chiefs a abrir, ao quais se seguiam os James, uma banda que não sabe dar maus concertos, para depois entrarem em palco os Xutos e Pontapés, o tal grupo de quem se pode afirmar que "há mais pessoas em Portugal que nunca viram o mar, do que pessoas que nunca viram os Xutos", e, a seguir, um senhor que do "alto" dos seus 62 anos, continua a ser um fenómeno de força, garra e entrega: Bruce Springsteen.
No que diz respeito aos Kaiser Chiefs, o grupo britânico formado em 2003 e liderado pelo imprevisível Ricky Wilson, conseguiu empolgar a plateia, mais pela presença em palco de Ricky do que pela música que o grupo tocou de forma enérgica e cheia de garra, só que continua muito preso, quase refém, do primeiro disco, "Employment" de 2003, e a prova disso foi que as músicas mais empolgantes e que conseguiram levar ao rubro os espectadores, foram "I Predict a Riot", "Oh My God" ou "Everyday I Love You Less and Less", por exemplo. Apesar de alguma indiferença do público perante temas dos outros discos já editados, a energia de Ricky Wilson torna-se contagiante e, graças a isso, o grupo oriundo de Leeds deu um bom concerto.
Após um curto intervalo, eis que sobe ao palco uma banda que desperta em muita gente uma imensa curiosidade, por um simples facto: os James não sabem dar maus concertos. É impressionante como conseguem superar a adversidade de estarem perante um mar de gente que não está lá especificamente para os ver, e conseguem dar um concerto fabuloso, perfeito, com o fascinante e inebriante estilo de dança de Tim Booth, a sua extraordinária voz, a presença em palco sem grandes espalhafatos e correrias como o grupo anterior, mas uma presença enérgica e sedutora, que consegue fazer esquecer o motivo que levou os cerca de 80000 espectadores à Bela Vista e faz com que participem, cantem e saltem como se não houvesse mais ninguém a seguir, até que, passado pouco mais de uma hora, os James despedem-se e abandonam o palco, fazendo com que acordemos de um quase sonho e eis-nos de volta à realidade, e essa realidade é o concerto que se segue, os Xutos e Pontapés.
Confesso não perceber a razão que levou a organização a colocar os Xutos e Pontapés a seguir aos James. Não quero com isto afirmar que Tim, Zé Pedro, Cabeleira e Kalu não mereçam, mas acho que seria muito mais justo os James tocarem a seguir aos Xutos, um grupo que já há imenso tempo não acrescenta nada de novo aos seus concertos. São as mesmas músicas, os mesmos gestos, o mesmo visual, a mesma postura em palco. Ao fim e ao cabo é mais do mesmo, mas acaba por resultar, pois como as canções são sempre as mesmas, as pessoas já sabem as letras de cor, o que, se por um lado é positivo pois cria entusiasmo, por outro lado não deixa de dar a entender alguma falta de criatividade do grupo no sentido de produzirem canções novas que façam esquecer as antigas. A regra tem funcionado e em equipa que ganha não se mexe, mas acaba por aborrecer.
Depois do concerto dos Xutos e Pontapés, e após um intervalo maior do que o normal, eis que entra em palco alguém de quem o jornalista John Landau disse, em Maio de 1974, "Eu vi o futuro do rock n' Roll e o seu nome é Bruce Springsteen. Numa noite em que precisei de me sentir jovem, ele fez com que me sentisse como se estivesse a ouvir música pela primeira vez".
Esta frase, dita numa crítica a um concerto de Bruce Springsteen por alguém que mal o conhecia e que mais tarde se tornou seu empresário, diz tudo sobre este grande músico.
Bruce Springsteen em palco é arrasador e não precisa de confetes, de grandes jogos de luzes, de fogo de artifício, nem nenhum tipo de adereços para proporcionar um excelente concerto de rock puro, e passados praticamente 40 anos desde a edição do seu primeiro disco, "Greetings From Asbury Park, N. J.", a sua música continua a funcionar e a passar de geração em geração, e um dos maiores exemplos disso é "Because The Night", tema deste primeiro disco e que continua a empolgar quem o ouve, o que, aliás, é uma característica da música de Springsteen, pois fica a ideia que os seus concertos vão muito para além da música e tornam-se uma espécie de celebração onde toda a gente é feliz, quase criando a ideia que estamos no mundo ideal. A felicidade dos músicos em palco, a entrega e a energia que libertam são contagiantes e, coincidência ou talvez não, é engraçado apreciar os raios de felicidade espelhados na cara das pessoas que, como Landau referiu na altura estão a ali como se estivessem a ouvir música pela primeira vez, só que desta vez sabem as letras e cantam, gritam e saltam até à exaustão.
Atrevo-me a afirmar que este concerto que durou duas horas e vinte minutos, arrisca-se a ser considerado o melhor concerto do ano de 2012, em Portugal.
Para finalizar formalizo um desejo: que Bruce Springsteen não demore tanto tempo a regressar a Portugal e que venha em breve.