Sons distorcidos,
vozes abafadas por vezes imperceptíveis, guitarras poderosas e saturadas,
alguns solos, um autêntico caos ruidoso e sonoro.
Estes são os
ingredientes que compõem "M B V", o disco que, de uma forma
surpreendente, foi lançado esta semana pelos My Bloody Valentine, banda de
culto que se formou em Dublin em 1984.
Liderados pelo
guitarrista Kevin Shields, editaram o primeiro disco em 1985, o EP “This Is
Your Bloody Valentine”, sem grande sucesso. No final de 1987, o vocalista Dave
Conway abandona o grupo, sendo substituído por Bilinda Butcher, na voz e
guitarra. É após esta alteração que a música do grupo começa a ter a sua
própria identidade e sonoridade e em 1988, editam o muito festejado e aclamado
“Isn’t Anything”, que obteve grande sucesso junto da crítica britânica e
surpreendeu o mundo musical da altura, graças a um estilo muito próprio, aliado
a uma presença em palco no mínimo estranha, já que os músicos actuavam com os
olhos fixos no chão, sem encarar o público, daí surgindo a definição de
“Shoegaze” para o seu estilo musical.
Em 1991 é editado o
mítico – por muita gente considerado um dos melhores discos da história da
música – “Loveless”, um disco soberbo que ainda hoje faz sentido, e que
catapultou o grupo para um patamar muito elevado, apesar de ser uma música
ruidosa e complexa, mas de grande qualidade e genialidade.
Após a edição deste
disco, o grupo esteve inactivo durante muitos e muitos anos, e, vinte e dois
anos depois, quase que de um dia para o outro, lançam um novo disco, apanhando
de surpresa toda a imprensa musical e até os próprios fans, que há já muito
tempo ansiavam por algo novo, mas sem grandes esperanças, apesar dos rumores
que iam surgindo pela imprensa.
Neste início de
Fevereiro aí está, o novo disco dos My Bloody Valentine, intitulado somente “M
B V”, e que sucede a “Loveless” de 1991.
A sonoridade desse
mítico disco, mantém-se neste novo trabalho, não só na parte mais ruidosa, como
também na parte mais melódica, este M B V, acaba por dar uma certa continuidade
à obra do grupo. Poder-se-ia afirmar estarmos perante "mais do
mesmo"' não fosse a criatividade e o talento destes músicos, que continuam
a ter a capacidade de surpreender pela positiva, e aquilo que podia parecer uma
continuidade de Loveless – o tal mais do mesmo - não é, e não deixa de ser
curioso que, à medida que vamos ouvindo o disco, apodera-se de nós a sensação
de estarmos perante algo novo, tal a genialidade presente, que faz com que por
vezes a música do grupo pareça estranha e requer mais do que uma simples
audição.
Ao todo, este “M B
V” traz-nos nove temas, todos eles repletos de guitarras em desgarradas
permanentes, pequenos solos, temas caóticos e ruidosos, distorções, tudo o que
se possa imaginar num cenário de caos, como se a música estivesse a ser interpretada
de uma forma anárquica, mas, é então que a voz de Bilinda Butcher nos traz de
volta à realidade, apesar de em alguns temas surgir abafada, mas isso faz com
tenhamos a necessidade de ir à procura da paz que irradia dessa voz doce, terna
e meiga, com um efeito “balsâmico”.
Se, a título de
exemplo, em temas como “She Found Now”, “Nothing Is” ou “Wonder 2”, sentimos o
efeito caótico da música do grupo, já em “Only Tomorrow” ou “Is This And Yes”,
sentimos esse bálsamo, e aí sim, entendemos o tudo o que possa ser escrito
sobre este disco e sobre os My Bloody Valentine.
Este pode não vir a
ser considerado um dos melhores discos do ano (o que duvido), mas vai ser,
seguramente, considerado o acontecimento do ano.
Um disco a ouvir em
“repeat”, muitas e muitas vezes, pois a boa música é algo de que se vai gostando cada vez mais, à medida que se vai ouvindo e “entranhando” em nós, de forma viciante.
Este é um desses
discos.
01 – She Found Now
02 – Only Tomorrow
03 – Who Sees You
04 – Is This And Yes
05 – If I Am
06 – New You
07 – In Another Way
08 – Nothing Is
09 – Wonder 2
Nota – 9/10
Sem comentários:
Enviar um comentário