14/08/09

Entrevista... Fernando Correia Marques

Terceira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog ao Fernando Correia Marques no ano de 1982, para o jornal Musicalíssimo.
...
Perg. – Podes não te considerar um rocker, mas tens de ter algo a ver com o rock quando cantas temas como, por exemplo o “Hey mano”, ou mesmo o “Louco, amor louco”. Não concordas?
Resp. – A nível de rock considero-me um “revival”. Os anos 50 foram fundamentais para o rock, e o resto que se passou até agora são tentativas de se encontrar algo no caminho.
Perg. – O que achas do rock que se faz em Portugal?
Resp. – Em Portugal, infelizmente, o rock é muito mal tratado. Para além disto, existem empresários que são do pior que pode haver, em que exploram as bandas e os músicos até à medula, e todos nós sabemos que uma banda de rock não vive dos músicos que lá tocam. Eu, se tiver uma banda e os músicos não tiverem instrumentos, como é lógico, eles não podem tocar. Em Portugal os instrumentos musicais são considerados artigos de luxo e isso já é uma grande exploração que se faz às bandas musicais. É por isso que eu não acredito em muitos esquemas de rock que aprecem por aí ao nível da promoção empresarial. Isso é um roubo, infelizmente.
Perg. – Em termos de projectos para o futuro, o que é que tens em mente?
Resp. – Pretendo continuar a gravar, fazer um som porreiro e tentar experiências novas ao nível das letras e também tentar criar um estilo próprio.
...
Nota – Entrevista feita para o jornal Musicalíssimo. Fernando Correia Marques gravou os primeiros discos com o nome de Fernando e foi nessa altura que esta entrevista foi feita. Os seus primeiros singles, eram num estilo rock n’ roll muito comercial (daí o ser acusado de oportunismo para vender). A partir de 1983 o seu estilo musical situa-se na chamada música popular portuguesa ligeira, muitas vezes denominada “música pimba”. Ainda hoje grava, sob o nome de Fernando Correia Marques. Obtém grande sucesso e dá imensos concertos pelas terras portuguesas e no estrangeiro, junto das comunidades de emigrantes.

FIM

13/08/09

Band Of Skulls - Baby Darling Doll Face Honey

O trio Band Of Skulls editou recentemente o seu trabalho de estreia, Baby Darling Doll Face Honey, para a editora Shangri-La. Oriundos de Southampton, Inglaterra, trazem-nos um conjunto de doze boas canções, estando patente em algumas delas influências revivalistas (destaque para o tema Blood) que, misturadas com um som alternativo muito actual, criam uma atmosfera musical simultaneamente curiosa e estranha, mas muito interessante.
Russel Marsden na guitarra e voz, Emma Richardson no baixo e voz e Matt Hayward na bateria, têm, com este disco, uma estreia auspiciosa; Baby Darling Doll Face Honey é um bom disco repleto de boas canções para serem tocadas ao vivo na digressão que o grupo está a preparar.

01 - Light Of The Morning
02 - Death By Diamonds And Pearls
03 - I Know What I Am
04 - Fires
05 - Honest
06 - Patterns
07 - Hollywood Bowl
08 - Bomb
09 - Impossible
10 - Blood
11 - Dull Gold Heart
12 - Cold Frame

Nota - 8/10

12/08/09

Entrevista... Fernando Correia Marques

Segunda parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog ao Fernando Correia Marques no ano de 1982, para o jornal Musicalíssimo.
...
Perg. – Musicalmente, como é que te defines?
Resp. – Defino-me como um músico que gosta de cantar aquilo que compõe. Se for rock é rock, se for balada é balada; desde que eu componha e goste, está tudo bem.

Perg. – Tu podes gostar, mas os críticos acusam-te de um aproveitamento para cantares aquele género musical que está a vender mais, para dessa forma ganhares dinheiro. Não concordas?
Resp. – Vou-te responder em duas alíneas. Em primeiro lugar os críticos em Portugal são indivíduos em que a maioria deles não percebe nada de música, vão ver um concerto e não estão a perceber nada daquilo. Os críticos em Portugal funcionam da maneira que a música lhes entra no ouvido, ou seja: se fica no ouvido gostam, se não fica não gostam. Quem faz isso não é crítico, pois eles devem analisar o esquema todo, a música toda, e depois então podem criticar. Eu, quando não percebo uma coisa, não a crítico. Quem critica tem de ouvir o concerto e não se limitar a dizer que gosta quando a batida é boa, ou que não gosta quando a batida é má. Acho muito bem que se critiquem certas bandas estrangeiras que vêm cá dar concertos e que são uma bela porcaria. O concerto que as Girl School deram, por exemplo, na minha opinião foi um insulto actuarem cá e cobrarem um balúrdio. Esse dinheiro podia ser para os grupos portugueses. Não é porém os portugueses a fazerem as primeiras partes desses concertos, em que o som que temos sai completamente “esburacado” e onde somos pagos miseravelmente. Salvo raras excepções, os críticos portugueses não percebem muito de música.
O segundo ponto, em relação a eu estar a aproveitar-me do rock para ganhar dinheiro, isso é um erro, pois o rock também já este na moda nos anos 60. Por outro lado, não tenho interesse nenhum em estar o nível do rock já que não sou um rocker, pois se fosse formava uma banda e ia para a estrada, pois um rocker faz-se na estrada, não é num estúdio. Fiz o “Hey Mano” porque curti muito. O rock não dá dinheiro e as bandas que vivem disso vêem-se com muitas dificuldades para sobreviver. Eu não sou um rocker, apenas canto aquilo que componho e posso acrescentar que ainda não ganhei muito dinheiro como músico, por isso não acho que esteja a existir um aproveitamento.
...

11/08/09

Hoje - Amália Hoje

Sónia Tavares e Nuno Gonçalves (dos The Gift), Paulo Graça (dos Plaza) e Fernando Ribeiro (dos Moonspell), juntaram-se para este projecto "Hoje", com o intuito de homenagear a maior fadista de todos os tempos, Amália Rodrigues. Embora possa parecer, à partida, um projecto com o seu "quê" de estranho - um pouco por causa dos músicos que fazem parte do mesmo - arrisco afirmar que estamos perante o melhor disco de música portuguesa do corrente ano.
Um conjunto de temas interpretados outrora por Amália Rodrigues, aqui com uma "roupagem nova", um disco bem gravado, com uma excelente produção e, sobretudo, tocado e cantado com alma, como manda o fado. Obrigatório.

01 - Fado Português
02 - Grito
03 - Gaivota
04 - Nome de Rua
05 - Formiga Bossa Nova
06 - Medo
07 - Abandono
08 - L'Important C'est La Rose
09 - Foi Deus

Nota - 9/10

10/08/09

Entrevista... Fernando Correia Marques

Primeira parte de uma entrevista feita pelo autor deste blog ao Fernando Correia Marques no ano de 1982, para o jornal Musicalíssimo.

Fernando (Correia Marques), começou a ser um nome conhecido no nosso meio artístico quando editou o seu segundo single, que incluía o tema “Hey Mano”, que obteve grande sucesso. O primeiro disco da sua carreira foi o single “Melodia Chá-lá-lá”, editado em 1980 e que passou despercebido. Recentemente foi posto à venda o single “Louro Amor Louco / Ninguém é Louco” que, segundo informações colhidas junto de um responsável da editora, está a vender-se bem.
De seguia, transcreve-se uma entrevista feita recentemente.

Perg. – Fernando, como esta entrevista se deve principalmente ao facto de teres editado recentemente mais um disco, o terceiro da tua carreira, gostava que falasses um pouco sobre esse teu novo trabalho.
Resp. – Uma das faces do single, “Louro Amor Louco”, é na mesma linha musical que o “Hey Mano”, embora não tão acelerada. Em “Louco Amor Louco” tento mostrar que todos nós temos um louco amor que é um amor louco; no tema “Ninguém é Louco” tento mostrar que de são e de louco todos temos um pouco. De facto, todos nós temos uma paranóia em que nos apetece fazer qualquer coisa; nas letras eu faço uma crítica social.

Perg. – Até que ponto essa crítica social pode ser importante?
Resp. – Quando digo, numa canção, “ninguém te engana, mas és enganado” ou “ninguém te crava, mas és cravado”, isso é verdade, critico aquilo que não gosto e isso vai obrigar-te a pensar, é algo real. Tudo o que canto tem um conteúdo que de facto é louco mas que tem uma parte sã. Inicialmente, nas letras das minhas canções, começo com uma parte sã e depois entro na parte louca que é para levar a pessoa a pensar naquilo que quero dizer.
...

07/08/09

Entrevista... Rui Veloso

Quinta e última parte de uma entrevista feira a Rui Veloso, publicada no jornal Musicalíssimo no dia 30 de Setembro de 1981.
...
Perg. – Falaste em falta de condições. Achas que isso influi na qualidade?
Resp. – Influi minimamente. Um tipo, tendo uma boa guitarra evolui muito mais facilmente do que com uma má guitarra, pois o som é completamente diferente e essa diferença na qualidade do som é algo que incentiva os músicos, pois ao gostarem desse som tentam sempre fazer algo melhor.
Perg. – Seguiste algum critério especial quando escolheste o Zé Nabo e o Ramon Gallarza para te acompanharem em disco e ao vivo?
Resp. – Não segui critério nenhum pois nem os conhecia. Eles foram-me apresentados pelo António Pinho. Primeiro conheci uns músicos aqui em Lisboa que eram dos Petrus Castrus, mas não me dei bem com eles a nível musical, só ensaiamos duas vezes e depois acabou. Depois comecei a tocar com o Zé Nabo e com o Ramon e demo-nos bem, pois eles atinaram com aquilo que eu fazia e foi assim que aconteceu eles virem tocar comigo.
Perg. – Entre os grupos do rock português existem algumas divergências que fazem com que as bandas se ataquem umas às outras, para além da grande rivalidade entre as de Lisboa e as do Porto. Não achas que isso possa ser prejudicial para os grupos?
Resp. – Não acho que seja prejudicial.
Perg. – Por exemplo, no teu caso em que os Roxigénio acusam a tua música de ter um atraso de 20 anos em relação à deles?
Resp. – Eles podem dizer o que lhes apetecer. Eles não vendem 10 % dos discos que eu vendo e a prova é essa. O que eu costumo dizer é que isto é um pequeno país, cheio de grandes homens. Na minha opinião, essas divergências não afectam os grupos, pois existir uma certa rivalidade até é bom: picam os do sul e picam os do norte. Há sempre divergências e rivalidades.
Perg. – Então, não concordas quando se diz que isso afecta os grupos?
Resp. – Acho que não devia haver rivalidades, mas há sempre pretensiosismos. Eu até evito falar dos outros por causa disso, porque os músicos não entendem as críticas que os outros lhes fazem, ao nível de gosto. Se dizemos mal de um grupo, os músicos desse grupo ficam todos chateados e por isso, mais vale não falar. Quando houver algo de que goste mesmo, digo, como por exemplo GNR ou Jafúmega (apesar de ser um grupo um pouco indefinido). Há também os NZZN que acho engraçados.
Perg. – O que é que achas dos Street Kids?
Resp. – São mais ou menos, mas é uma onda em que eu não vou muito. Já gostei mais deles, mas acho que não evoluíram muito e ainda não têm um bom som. Sinceramente não há em Portugal algo de que eu goste muito, não há ninguém que “ligue” à minha onda a não ser o João Allain da Go Graal Blues Band que, quanto a mim, é um dos melhores guitarristas portugueses… se não for mesmo o melhor.
Perg. – Achas que o Rock que se faz cá em Portugal já tem qualidade suficiente para poder ir além fronteiras?
Resp. – Acho que sim; não vejo porque não. Lá fora também se faz muita música má, não é só cá. No entanto acho que se for cantado em português não consegue ter êxito lá fora, porque os estrangeiros não percebem nada de português. Por exemplo, no festival do Midem, houve quem se mostrasse interessado no meu disco mas disseram que as músicas tinham de ser cantadas em inglês e já ando a tratar disso. Mais tarde ou mais cedo, gravo um disco em inglês para ir lá para fora.
Perg. – Já que estamos a falar de ir para o mercado estrangeiro qual é, na tua opinião, o cantor português com mais hipóteses de obter êxito?
Resp. – Não há dúvida nenhuma de que é o José Cid. Ele é a pessoa que tem mais facilidades em fazer êxitos e tem a cabeça a pensar internacionalmente. Ele, se quiser, faz coisas lá para fora mas não pensa muito nisso, porque ganha bastante dinheiro cá em Portugal.
Perg. – Já que actualmente se fala tanto na qualidade da nossa televisão, o que é que achas desse tema?
Resp. – É uma merda. É uma anedota perfeita, e para ver isso não é preciso conhece-la muito a fundo; agora se uma pessoa começa a conhecer muito a fundo, então começa a ser triste.
Perg. – Uma das falhas nos teus espectáculos ao vivo é que, em palco, não és muito expressivo e estás muito parado. Não achas que isso dificulta um bocado a comunicação entre o músico e o público?
Resp. – Dificulta de certeza, mas eu não me consigo mexer, quer dizer é natural que me consiga mexer e ser mais comunicativo quando estiver mais à vontade e com um bom som de palco. Se não tiver problemas de som, estou mais à vontade, mas isso não tem acontecido pois tenho tido sempre problemas ao nível do som. Às vezes estou em palco e não ouço a minha guitarra. Além disso, já viste o que é estar em palco com uma guitarra ao tiracolo? E ainda por cima eu sou fraquito. Essencialmente o que faz com que me mexa pouco, é estar pouco à vontade.
Perg. – O que é que achas das editoras clandestinas de cassetes?
Resp. – Acho que isso está mal e devia acabar. É dinheiro que eu perco e que ganha alguém que empata o seu dinheiro em meia dúzia de gravadores, só para copiar e sem o mínimo de preocupação em termos de qualidade. Eu perco muito dinheiro com as cassetes piratas e esse dinheiro faz-me jeito.
Perg. – Para terminar esta longa entrevista, gostava que me dissesses quais os teus projectos para o futuro?
Resp. – Os meus projectos são ir gravando, trabalhando, pois isto é o meu trabalho, e também ir dando alguns concertos, mas não muitos, pois como já disse não tenho grande vida para concertos.

06/08/09

Entrevista... Rui Veloso

Quarta parte de uma entrevista feita a Rui Veloso, publicada no jornal Musicalíssimo no dia 30 de Setembro de 1981.
...
Perg. – Quais são as tuas principais influências?
Resp. – As minhas principais influências são de músicos blues, como por exemplo Eric Clapton, B. B. King e também de Mark Knopfler, isto como guitarristas; como voalistas gosto muito do Stevie Wonder e do Ray Charles. Acho que é difícil procurar influências, pois ouço imensas coisas.
Perg. – Achas que existe aquilo a que muita gente chama “Movimento Rock português”?
Resp. – Acho que não.
Perg. - Porquê?
Resp. – Porque isso não existe, esse movimento não existe. Existem músicos a tocar, mas não existe um movimento. Os músicos não se conhecem entre si, portanto, não pode haver movimento nenhum. O que se está a passar é que as editoras abriram as suas portas aos grupos.
Perg. – A partir da altura em que tu surgiste, começaram a aparecer uma série de grupos incentivados pelo êxito do teu LP. Consideras que foste o responsável pelo aparecimento desses grupos?
Resp. – Eu não fui a chave disso; a chave foi a venda do meu disco e do êxito que obtive. As editoras, a partir dessa altura começaram a exigir que os grupos cantassem em português, pois assim tinham mais sucesso.
Perg. – Afirmaste que as editoras abriram as suas portas aos grupos portugueses. Não te parece que, caso esses grupos fracassem, essas portas possam ser fechadas?
Resp. – Os grupos não vão dar prejuízo porque já existe um público. É natural que as vendas venham a estabilizar, mas há sempre quem compre. Há muitos grupos que já vendem bem como por exemplo, GNR, Salada de Frutas, UHF, Táxi e muitos mais; se esses grupos vendem bem é porque há mercado e, como tal, há público.
Perg. – Mas não achas que será tarde para aparecer um movimento desses?
Resp. – Não acho que seja tarde, e não sei porque razão é que as editoras só agora é que começaram a dar o apoio necessário. Há músicos, eles gravam e existem, e havendo músicos não quer dizer que eles estejam atrasados. Há uma data de factores a que se deve este atraso. Por exemplo, uma boa guitarra cá em Portugal é caríssima e além disso temos falta de aparelhagem, e existe também o problema do alto preço do material, pois esse tipo de material quando é importado, tem de pagar uma taxa de luxo que é muito elevada e isso põe os instrumentos a um preço exorbitante.
...

05/08/09

Entrevista... Rui Veloso

Terceira parte de uma entrevista feita a Rui Veloso, publicada no jornal Musicalíssimo no dia 30 de Setembro de 1981.
...
Perg. – Com o êxito que obtiveste com o teu primeiro disco, criaste um certo compromisso para com as pessoas que o compraram e geralmente, quando um cantor aparece com um primeiro disco que se vende bem, esse cantor mais tarde ou mais cedo “morre”, quer dizer deixa de se falar nele. Será que isso é algo que te preocupa?
Resp. – Preocupa-me na medida em que eu preferia ganhar dinheiro à custa dos discos, porque não tenho grande vida para fazer espectáculos e é nesses espectáculos que se ganha dinheiro, embora eu não tenha ganho muito mas, se a coisa for bem feita, pode ganhar-se muito dinheiro. No meu caso, como ganhei mais ou menos bem com a venda de discos, preferia viver à custa dos discos, mas para isso é preciso manter um certo público que os compre, como é lógico. O “Ar de Rock” já é quase disco de ouro, e o single ultrapassou o disco de prata há muito tempo. É evidente que não acredito que o meu segundo LP vá vender tanto como o primeiro. Tenho a impressão que o grande número de vendas do “Ar de Rock”, deveu-se mais ao entusiasmo inicial e toda a gente o comprou porque não havia mais nada.
Perg. – Este teu próximo trabalho vai ser mais à base de blues, ao passo que no “Ar de Rock” apareceste numa onda um bocado diferente. Não achas que essa mudança de estilo pode vir a decepcionar alguns dos teus fans que compraram o primeiro disco?
Resp. – Acho que não. Não é a opinião de quem comprou o “Ar de Rock” que me vai forçar a mudar de estilo ou a continuar com o mesmo estilo e uma coisa que o público tem de respeitar é a criatividade. Portanto, não é o público que vai indicar a via que eu devo seguir e, mesmo assim, não acho que vá decepcionar. Se gostarem… gostaram; se não gostarem… não gostaram. Isso é um problema meu.
Perg. – Como disse na pergunta anterior, o teu próximo disco vai ser à base de Blues. Para além disso tem a particularidade de ser cantado em português. Achas que a língua portuguesa se integra dentro do espírito do Blues?
Resp. – É uma experiência. Eu acho que sim, mas não é fácil. O que é preciso é haver sensibilidade por parte da pessoa que escreve para apanhar a métrica e os sons e caso haja essa sensibilidade a coisa funciona e eu até tenho um blues em português.
Perg. – Mas achas que o blues tem aceitação suficiente no mercado português?
Resp. – Acho que sim. Os espectáculos de blues que já houve em Portugal, como por exemplo o Blues Band, foram porreiros e tiveram bastante público; e mais, no festival de jazz de Cascais, havia muita malta que ia lá só para ver tocar o pessoal do blues. Acho que tem aceitação.
...

04/08/09

Entrevista... Rui Veloso

Segunda parte de uma entrevista feita a Rui Veloso, publicada no jornal Musicalíssimo no dia 30 de Setembro de 1981.
...
Perg. – O “Ar de Rock” foi um LP que caiu do ar, quer dizer, apareceu de repente. O que é que vai aparecer agora?
Resp. – Para mim, a única diferença que existe agora é que antes eu fazia músicas e não as gravava e agora já as gravo. Continuo a fazer músicas, coisas que eu e o Tê escolhemos, digamos que é um trabalho de continuidade. Uma pessoa todos os dias está a sofrer influências musicais, influências de todo o género e ao mesmo tempo está a crescer, a cabeça vai envelhecendo e portanto, tudo isso se vai reflectir. Não sei colocar as coisas de outra maneira, mais ao nível de sensações.
Perg. – Essa tua definição de saíres, de não seres o ídolo protótipo, tem alguma coisa a ver com a continuidade do disco, pois tu assumiste uma responsabilidade em termos de qualidade de impacto.
Resp. – São coisas que me passam ao lado, são as pessoas que me classificam dentro de um certo estilo, dentro de vários parâmetros em que está incluída a chamada qualidade. Não sei se a minha música tem ou não qualidade, pois isso depende do padrão que uma pessoa toma, quer dizer, se for um padrão nacional talvez tenha alguma qualidade, mas se for um padrão internacional já é capaz de não ter assim tanta qualidade.
Perg. - Mas agora tu tens uma responsabilidade perante as pessoas que compraram o teu disco e que aguardam o teu próximo trabalho.
Resp. – Às vezes nem me lembro dessa responsabilidade e algo de que ninguém se lembra é que eu tenho só 24 anos e ainda sou um puto. Muitas vezes, as pessoas esperam que eu reaja como um homem e depois põem-me um peso em cima chamado responsabilidade, e isso oprime. A música é uma coisa que oprime um bocado quando se entra no meio. Era bom ter-se a possibilidade de ter uma casa fora, ninguém chatear por causa de contratos, não ter a preocupação de gravar um disco e, além destas, há uma série de coisas que se um gajo acorda mal disposto, começa-se a lembrar e fica oprimido.
...

03/08/09

Entrevista... Rui Veloso

Primeria parte de uma entrevista feita a Rui Veloso, publicada no jornal Musicalíssimo no dia 30 de Setembro de 2001.

Rui Veloso é sem dúvida alguma, o nome mais importante do panorama rock português. Essa importância deve-se a vários factores, como por exemplo o facto de ter sido ele o primeiro cantor a chegar ao primeiro lugar de todos os tops com um disco de rock cantado em português e, isso fez com que as editoras abrissem as suas portas aos grupos portugueses, pois o seu LP “Ar de Rock” obteve um sucesso estrondoso.
Actualmente está a preparar outro disco que promete ser de grande qualidade.

Todos estes motivos serviram de pretexto para lhe fazer uma entrevista… mais uma.
Perg. – Rui Veloso, quais as principais diferenças que se deram na tua vida, depois de teres editado o “Chico Fininho”?
Resp. – A principal diferença é que antes vivia no Porto e agora vivo em Lisboa. O estatuto de estrela não serve para nada e eu não o sigo à regra, mas há muitos gajos que o seguem, e esses são capazes de arranjar conhecimentos, mas que não passa disso, porque amigos arranjam-se aos poucos.
Perg. – Antes de editares o “Chico Fininho” o que é que fazias? O que sentes depois de o teres editado e de teres adquirido o sucesso?
Resp. – Antes estava pior, porque sonhava gravar um disco e ter guitarras; agora gravo e toco e consegui fazer disto a minha vida. Mas este mundo da música dá cabo da cabeça a uma pessoa, porque os músicos atacam-se uns aos outros e por vezes nós, músicos, ouvimos cochichos desagradáveis. O antes é antes e o agora é agora; uma pessoa tem de fazer para que o que vem a seguir seja ainda melhor e fazer com que nos sintamos mais à vontade.
Perg. – Essa violência nos poemas das tuas músicas ao retratar os problemas do dia a dia, vem de onde ou de quem?
Resp – Vem do Carlos Tê que é quem escreve os poemas.
Perg. – Tu não escreves mas és quem os canta, quem lhes dá vida. Identificas-te de alguma maneira com aquilo que cantas?
Resp. – Identifico-me totalmente com aquilo que está escrito e é por isso que eu e o Carlos Tê nos damos muito bem, engatamos um no outro a nível musical. Eu atino com o que ele faz e ele atina com o que eu faço. Mas essa violência a que te referes, essa maneira de pôr as coisas a frio e de mostrar às pessoas como as coisas se passam, vem dele.
...