Quinta e última parte de uma entrevista feira a Rui Veloso, publicada no jornal Musicalíssimo no dia 30 de Setembro de 1981.
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Perg. – Falaste em falta de condições. Achas que isso influi na qualidade?
Resp. – Influi minimamente. Um tipo, tendo uma boa guitarra evolui muito mais facilmente do que com uma má guitarra, pois o som é completamente diferente e essa diferença na qualidade do som é algo que incentiva os músicos, pois ao gostarem desse som tentam sempre fazer algo melhor.
Perg. – Seguiste algum critério especial quando escolheste o Zé Nabo e o Ramon Gallarza para te acompanharem em disco e ao vivo?
Resp. – Não segui critério nenhum pois nem os conhecia. Eles foram-me apresentados pelo António Pinho. Primeiro conheci uns músicos aqui em Lisboa que eram dos Petrus Castrus, mas não me dei bem com eles a nível musical, só ensaiamos duas vezes e depois acabou. Depois comecei a tocar com o Zé Nabo e com o Ramon e demo-nos bem, pois eles atinaram com aquilo que eu fazia e foi assim que aconteceu eles virem tocar comigo.
Perg. – Entre os grupos do rock português existem algumas divergências que fazem com que as bandas se ataquem umas às outras, para além da grande rivalidade entre as de Lisboa e as do Porto. Não achas que isso possa ser prejudicial para os grupos?
Resp. – Não acho que seja prejudicial.
Perg. – Por exemplo, no teu caso em que os Roxigénio acusam a tua música de ter um atraso de 20 anos em relação à deles?
Resp. – Eles podem dizer o que lhes apetecer. Eles não vendem 10 % dos discos que eu vendo e a prova é essa. O que eu costumo dizer é que isto é um pequeno país, cheio de grandes homens. Na minha opinião, essas divergências não afectam os grupos, pois existir uma certa rivalidade até é bom: picam os do sul e picam os do norte. Há sempre divergências e rivalidades.
Perg. – Então, não concordas quando se diz que isso afecta os grupos?
Resp. – Acho que não devia haver rivalidades, mas há sempre pretensiosismos. Eu até evito falar dos outros por causa disso, porque os músicos não entendem as críticas que os outros lhes fazem, ao nível de gosto. Se dizemos mal de um grupo, os músicos desse grupo ficam todos chateados e por isso, mais vale não falar. Quando houver algo de que goste mesmo, digo, como por exemplo GNR ou Jafúmega (apesar de ser um grupo um pouco indefinido). Há também os NZZN que acho engraçados.
Perg. – O que é que achas dos Street Kids?
Resp. – São mais ou menos, mas é uma onda em que eu não vou muito. Já gostei mais deles, mas acho que não evoluíram muito e ainda não têm um bom som. Sinceramente não há em Portugal algo de que eu goste muito, não há ninguém que “ligue” à minha onda a não ser o João Allain da Go Graal Blues Band que, quanto a mim, é um dos melhores guitarristas portugueses… se não for mesmo o melhor.
Perg. – Achas que o Rock que se faz cá em Portugal já tem qualidade suficiente para poder ir além fronteiras?
Resp. – Acho que sim; não vejo porque não. Lá fora também se faz muita música má, não é só cá. No entanto acho que se for cantado em português não consegue ter êxito lá fora, porque os estrangeiros não percebem nada de português. Por exemplo, no festival do Midem, houve quem se mostrasse interessado no meu disco mas disseram que as músicas tinham de ser cantadas em inglês e já ando a tratar disso. Mais tarde ou mais cedo, gravo um disco em inglês para ir lá para fora.
Perg. – Já que estamos a falar de ir para o mercado estrangeiro qual é, na tua opinião, o cantor português com mais hipóteses de obter êxito?
Resp. – Não há dúvida nenhuma de que é o José Cid. Ele é a pessoa que tem mais facilidades em fazer êxitos e tem a cabeça a pensar internacionalmente. Ele, se quiser, faz coisas lá para fora mas não pensa muito nisso, porque ganha bastante dinheiro cá em Portugal.
Perg. – Já que actualmente se fala tanto na qualidade da nossa televisão, o que é que achas desse tema?
Resp. – É uma merda. É uma anedota perfeita, e para ver isso não é preciso conhece-la muito a fundo; agora se uma pessoa começa a conhecer muito a fundo, então começa a ser triste.
Perg. – Uma das falhas nos teus espectáculos ao vivo é que, em palco, não és muito expressivo e estás muito parado. Não achas que isso dificulta um bocado a comunicação entre o músico e o público?
Resp. – Dificulta de certeza, mas eu não me consigo mexer, quer dizer é natural que me consiga mexer e ser mais comunicativo quando estiver mais à vontade e com um bom som de palco. Se não tiver problemas de som, estou mais à vontade, mas isso não tem acontecido pois tenho tido sempre problemas ao nível do som. Às vezes estou em palco e não ouço a minha guitarra. Além disso, já viste o que é estar em palco com uma guitarra ao tiracolo? E ainda por cima eu sou fraquito. Essencialmente o que faz com que me mexa pouco, é estar pouco à vontade.
Perg. – O que é que achas das editoras clandestinas de cassetes?
Resp. – Acho que isso está mal e devia acabar. É dinheiro que eu perco e que ganha alguém que empata o seu dinheiro em meia dúzia de gravadores, só para copiar e sem o mínimo de preocupação em termos de qualidade. Eu perco muito dinheiro com as cassetes piratas e esse dinheiro faz-me jeito.
Perg. – Para terminar esta longa entrevista, gostava que me dissesses quais os teus projectos para o futuro?
Resp. – Os meus projectos são ir gravando, trabalhando, pois isto é o meu trabalho, e também ir dando alguns concertos, mas não muitos, pois como já disse não tenho grande vida para concertos.
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