Neste primeiro dia do segundo fim-de-semana do Festival Músicas do Mundo, o Jamaicano Winston McAnuff - também conhecido como "Electric Dread", devido à sua postura em palco - e o acordeonista francês Fixi, apresentaram-se numa altura em que se preparam para lançar o seu primeiro álbum, com edição prevista para o mês de Setembro, disco este que surge na sequência natural do sucesso obtido com o EP "Garden Love", editado em Abril deste ano.
Durante mais de uma hora, no palco situado na Avenida Vasco da Gama, junto à bonita praia de águas calmas de Sines, foi possível viajar de forma alegre e descontraída pela música com raízes na Jamaica mas que navega pelos campos do Rock, Soul, Afrobeat e ainda pelo Maloya da Ilha Reunião, demonstrando uma verdadeira universalidade de ritmos aos quais é extremamente difícil ficar indiferente, não só pelo seu efeito contagiante, como pela forma como os músicos se apresentam em palco, pois ao contrário da maioria dos grupos do chamado "mainstream", estes demonstram um prazer e uma alegria enorme, e isso é algo que se transmite a quem está a assistir, acabando por funcionar como a cereja no topo do bolo.
Depois deste primeiro concerto na avenida, há que subir a íngreme escadaria que nos leva ao castelo. Tarefa árdua, mas em que se aplica máxima de "quem corre por gosto, não cansa".
A primeira actuação no Castelo, esteve a cargo dos portugueses Gaiteiros de Lisboa que, pelo que era possível ouvir nos comentários do público presente proporcionaram um bom concerto e com algumas intervenções extremamente críticas para com a polícia à entrada do recinto, pois as revistas efectuadas davam a ideia de estarem perante um bando de criminosos.
A seguir aos Gaiteiros de Lisboa, era chegada a vez de Trilok Gurtu e Tigran Hamasyan. Infelizmente, e motivado pelos sucessivos atrasos nos voos que o traziam até Portugal, o percussionista indiano Trilok Gurtu não pôde estar presente, cabendo a Tigran Hamasyan a árdua tarefa de satisfazer o imenso público presente e, diga-se passagem, isso foi conseguido.
Sozinho em palco, o pianista da Arménia não desiludiu e conseguiu proporcionar um dos melhores concertos desta edição ao recorrer a estilos clássicos mas sem ficar refém disso, entrando por campos experimentalistas alimentados por loops de piano eléctrico, usando o assobio como forma de ritmo e chegando mesmo a cantar com o característico canto arménio, numa mistura lamentos com alegrias. Esta simplicidade, estranhamente complexa e embriagante, proporcionou um dos mais belos concertos do dia, e graças a isso foi possível esquecer (por muito difícil que possa parecer) a ausência de Trilok Gurtu.
Pronto; a calmaria e a beleza proporcionada por Tigran Hamasyan durou pouco tempo. Ao fim de um curto intervalo, o rocker argelino Rachid Taha entrou em palco para um concerto arrasador e divertido. Conhecido não só por raramente estar sóbrio em palco mas também pelos excelentes concertos que proporciona, Taha, mais uma vez cumpriu. Com um alinhamento que percorreu os seus últimos discos, Rock n Rai 2 (2010) e Zoom (2013), houve de tudo, numa espécie de anarquia organizada, desde temas com nítidas influências do Oeste americano a outros tipicamente Árabes, proporcionando uma sonoridade característica e curiosa, graças a Hakim Hamadouche e o seu bandolim-alaúde. Os momentos altos da noite foram conseguidos com o boémio "Ecoute Moi Camarade", no qual o público colaborou de forma excelente originando rasgos de boa disposição indisfarçável por parte dos músicos, e também com "Rock El Casbah", o clássico dos Clash que fez levantar poeira no Castelo de Sines. Um bom concerto mas que soube a pouco, pois como tudo o que é bom, acabou depressa, e nem pareceu que tinha passado quase hora e meia naquele que foi o melhor concerto do dia.
Se Rachid Taha proporcionou o melhor concerto do dia, os japoneses Shibusa Shirazu Orchestra proporcionaram o melhor espectáculo. Com 26 elementos em palco, apresentaram uma actuação que cruzava o teatro fantástico e fantasmagórico com a dança "Butoh" do absurdo e do grotesco e uma linha musical abrangente, desde o Jazz ao Rock, passando pelo Funk e pelo Ska, e incursões na característica música balcânica e de improvisação. Tudo isto foi "temperado" com uma boa dose de humor, numa mescla estranha e desorganizada ficando a ideia que cada um fazia o que queria, como se estivéssemos perante uma Jam Session teatral e musical, com excelentes solos por parte de praticamente todos os músicos.
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