18/05/14

Coldplay... Ghost Stories

Muito mal-amados ultimamente ao serem acusados por alguns fans de rendição ao mainstream, não será este o disco da reconciliação, mas é um disco, acima de tudo, bonito, com nove agradáveis canções que acabam por ser uma boa surpresa, pois os Coldplay conseguem criar, na perfeição, um ambiente intimista sem que a identidade do grupo se perca.
"Ghost Stories", no seu conjunto, está longe daquilo que Chris Martin, Jon Buckland, Guy Berryman e Will Champion nos habituaram desde o início da carreira do grupo, Londres 1998.
Neste sexto trabalho de originais, surgem com uma sonoridade cada vez mais próxima do pop (onde sempre estiveram), e mais longe do rock (onde muita gente gostaria que tivessem permanecido), e apresentam um trabalho, acima de tudo, coeso, o que é também uma característica do grupo.
Logo a abrir o disco surge "Always on My Head", talvez pelo reflexo do recente divórcio de Martin, e não é por acaso que ao ouvirmos todas as canções que o compõem, ficamos com a sensação de alguém que estava angustiado e melancólico quando as criou, e isso é algo que se sente, e é aí, nessa capacidade de fazer sentir, que reside o virtuosismo do grupo, o ser capaz de transportar para quem o ouve, o estado de espírito de quem o compôs e tocou.
À excepção de "A Sky Full Of Stars", todo o disco é suave, terno e melancólico. Se este tema está mais vocacionado para as pistas de dança (graças à colaboração do DJ Avicii), os restantes criam o ambiente intimista já referido e a também já referida identidade do grupo mantém-se: o piano de Martin está lá, do princípio ao final do disco, as características guitarras também lá estão - ouça-se "Magic", "Another's Arms" ou "True Love", por exemplo, e, mesmo em Midnight, tema repleto de influências de Bon Iver (até vocalmente), o som inconfundível da banda permanece isso mesmo, inconfundível.
Finalmente e para o grupo não perder a sua característica de dar sempre a todos os seus discos um tom algo conceptual, o tema que encerra este disco é "O". Um nome enigmático para um tema ambíguo e extremamente intimista, à base de um piano que parece terminar a meio da canção, mas eis que nessa altura surge a voz de Martin, quase à capela, proporcionando um dos mais belos momentos do disco, o epílogo perfeito para um trabalho muito aguardado que, sem deslumbrar também não desilude, e do qual se aprende a gostar.
Relativamente à previsível digressão, fica a ideia que não serão estas as canções que irão fazer parte ou servir de base ao alinhamento dos concertos - algumas farão, seguramente - mas os Coldplay já atingiram o estatuto de banda de estádio ou espaços de grande dimensão e não me parece que estes temas possam funcionar nessas condições. Para além disso, quer queiramos quer não, os Coldplay de "Parachutes" (2000), de "A Rush of Blood To The Head" (2002) ou de X & Y (2005), continuam a ser mais fortes e impossíveis de apagar da memória, principalmente nos espectáculos ao vivo.
Ficamos a aguardar pela digressão, e até lá resta-nos ir degustando este "Ghost Stories".

01 - Always in My Head
02 - Magic
03 - Ink
04 - True Love
05 - Midnight
06 - Another's Arms
07 - Oceans
08 - A Sky Fulk of Stars
09 - O

Nota - 7.5 / 10

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