22/05/12

Ao vivo... Coldplay

A primeira vez que assisti a um concerto dos Coldplay foi em Paredes de Coura, no já longínquo dia 13 de Agosto de 2000. Na altura, o grupo liderado por Chris Martin era praticamente desconhecido e o cabeça de cartaz do dia eram os Mr. Bungle de Mike Patton. Lembro-me que muito do público presente aproveitou a actuação dos Coldplay para se dirigir aos bares com o intuito de beber ou comer algo; lembro-me também de ver em palco um Chris Martin muito tímido, que quase pedia desculpa por estar ali, perante aquela plateia que estava lá para ver os Mr. Bungle (que iam tocar a seguir) ou Flaming Lips (que tocaram antes).
Depois desse memorável concerto em 2000, seguiram-se 2003 e 2005 no Pavilhão Atlântico, 2011 no Festival Optimus Alive, e agora em 2012 no Estádio do Dragão.
Se dos concertos de 2000, 2003 e 2005 ficaram boas recordações, já o do ano passado no Alive foi muito fraco e, como tal, as expectativas para o Dragão eram imensas, não só por ser a primeira vez que  os via a actuar num estádio, e como tal a natural expectativa quando ao nível de produção e concepção de um espectáculo desta envergadura, mas também para ver se o que se passou no Alive em 2011 foi apenas um dia menos bom, ou se realmente o grupo já não tinha capacidade nem talento para proporcionar grandes concertos.
À chegada ao Estádio do Dragão - clubismos à parte, bastante bonito - surgiu alguém que nos acompanhou durante quase toda a noite: a chuva. Esta companhia indesejada, mas à qual não podíamos dizer não, esteve presente durante uma imensidão de tempo, chegando a criar algumas dúvidas se haveria ou não concerto, quer devido a possíveis questões técnicas quer pelas restrições em termos de movimentação dos músicos em palco, pois como se sabe, Chris Martin é um pouco irrequieto nos momentos em que abandona o piano.
Não sei se por coincidência ou se por S. Pedro gostar dos Coldplay, à hora do início do concerto do grupo a chuva abrandou, mas mesmo que isso não tivesse acontecido, essa companhia indesejada não teria sido suficiente para desanimar os cerca de 50000 espectadores que esgotaram o Dragão.
Quem acabou por ser mais prejudicado com a questão da chuva foi Rita Ora, que fez uma primeira parte mais curta do que o previsto, durante a qual interpretou de forma enérgica, mas sem contagiar, alguns temas do seu disco de estreia, a lançar brevemente.
Após uma breve pausa, e sempre com a chuva a cair, surge em palco Marina and The Diamonds, que regressou a Portugal depois da sua passagem pelo Festival de Paredes de Coura de 2011. De chapéu de chuva na mão, Marina Diamandis apresentou-nos alguns temas, não só do seu mais recente disco "Electra Heart", mas também do antecessor "The Family Jewels" de 2010, discos muito bem recebidos pela crítica e com bastante aceitação nos meandros da música pop alternativa. Foi pena que as condições climatéricas da chuva e do frio, limitassem a reacção do público, pois Marina Diamandis irradia talento e charme, e ainda por cima com muita classe.
Após mais um curto intervalo e com um atraso de 15 minutos, quando os nossos corpos se aproximavam da fase de imunidade à chuva, pois já estávamos todos ensopadinhos, eis que sobem ao palco os Coldplay, no meio de um excelente jogo de luzes, de fogo de artifício e milhares de pulseiras interactivas que  eram controladas pela parte técnica do grupo, que piscavam e faziam com que fossemos parte do espectáculo, transformando toda a envolvência humana num imenso jogo de luzes.
Musicalmente falando, o início não podia ser melhor e cedo se percebeu que o grupo pretendia agarrar o público desde a primeira música, e ao fazer isso conseguiu quebrar o gelo e o desconforto de várias horas à chuva.
"Mylo Xyloto" foi o tema que deu início a quase duas horas de boa música, num ritmo acelerado, com um alinhamento perfeito e que proporcionou uma viagem pelos cinco discos de originais já editados, sendo que a maior parte das músicas foram do recente "Mylo Xyloto", do qual tocaram 12 temas; de "A Rush Of Blood To The Head", que por muitos é considerado o melhor, foram tocados 5 temas; de "Viva La Vida", o mal-amado do grupo, tocaram três temas; de "X & Y", o mais conceptual, foram tocados dois temas; e de "Parachutes", o que fez com que começasse a gostar de Coldplay e os lançou para o estrelato, há muitos anos, tocaram aquele que para mim é o melhor tema do grupo, "Yellow", um tema forte e fascinante.
Apesar de actualmente, pelo menos em Portugal, ser moda dizer mal dos Coldplay, com a argumentação de que Chris Martin, Jon Buckland, Guy Berryman e Will Champion, optaram por uma faceta mais comercial, abandonando a cena Indie e optando pelo Maistream, continuo a considerá-los uma grande banda que vale como um todo. Estou convencido que é uma daquelas bandas que se um dia se separa, nenhum dos seus elementos consegue obter sucesso a solo, pois a magia e a beleza na música do grupo funcionam como um todo, e, para além disso, poucos grupos existem actualmente que se possam gabar de encher estádios por onde quer que passem, e os Coldplay fazem-no, e muito bem.
Resumidamente, foi um concerto muito bom, que fez esquecer o Alive do ano passado.